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Capítulo 2 – A Aliança em Silêncio

A igreja estava deslumbrante. Lustres de cristal refletiam a luz das velas, e flores brancas decoraram cada canto, espalhando um perfume suave que contrastava com o ar pesado da ocasião. Para os convidados, aquela união era um espetáculo de prestígio, um evento que celebrava a força e a continuidade de duas das famílias mais ricas e respeitadas do Rio de Janeiro. Mas para Elisa e Eduardo, não passava de um teatro cruel.

Elisa caminhava pelo tapete vermelho com o véu leve balançando ao ritmo de seus passos contidos. Vestia um vestido elegante, bordado com delicadeza, mas em seus olhos verdes esmeraldas não havia brilho, apenas a sombra da renúncia. Cada passo ecoava como um martelo em sua alma. Atrás dela, Francisca Santos, sua avó, observava com orgulho velado, como quem cumpria um dever antigo. Para Francisca, aquela união não era apenas um casamento, era o cumprimento de uma promessa feita a um velho amigo: Frederico Castro.

Eduardo, neto de Frederico, estava à frente do altar. Sua beleza de olhos azuis oceano, porte impecável transmitia segurança aos olhos dos presentes, mas por dentro carregava um misto de frieza e resistência. Ele jamais desejara aquele casamento. Sua vida estava pautada em negócios, em poder e decisões calculadas, e não em sentimentos impostos por alianças familiares. Ainda assim, ali estava ele, com o rosto impassível, esperando a mulher que se tornaria sua esposa.

Os olhares se cruzaram quando Elisa se aproximou. Houve um instante em que o mundo pareceu silenciar, como se até o ar contivesse a respiração. Ela buscava em Eduardo alguma fagulha de humanidade, algum sinal de que não estava entrando em um abismo sozinha. Mas encontrou apenas um olhar duro, quase desafiador. Ele, por sua vez, viu nela uma doçura que o desconcertou por um segundo, mas logo abafou qualquer emoção.

O padre iniciou a cerimônia com palavras ensaiadas, que falavam de amor, união e cumplicidade. Palavras que soavam como ironia diante da realidade daqueles dois. Elisa ouvia cada frase como se fossem correntes sendo colocadas em seus pulsos. Eduardo ouvia como quem assiste a uma negociação da qual não poderia escapar.

Quando chegou o momento das alianças, o silêncio tornou-se mais denso. O anel de ouro foi entregue a Eduardo. Suas mãos firmes seguraram a joia, mas ao colocá-la no dedo delicado de Elisa, seus olhos não revelaram ternura, apenas a aceitação fria de um contrato. Elisa, com mãos trêmulas, devolveu o gesto, selando o pacto que não escolheu.

E naquele instante, nasceu a aliança em silêncio. Não houve sussurro de promessas, nem troca de olhares cúmplices. Apenas o brilho metálico das alianças refletindo a ausência de sentimentos. Para os convidados, parecia uma cerimônia impecável, símbolo de grandeza e tradição. Para eles, era uma prisão dourada.

Francisca sorriu discretamente, satisfeita por garantir o futuro de sua neta. Frederico, emocionado, via naquele casamento a realização de um sonho antigo, a união de duas famílias destinadas à grandeza. Ambos ignoravam o peso que Elisa e Eduardo carregavam em seus corações.

Após o “sim” forçado e o beijo sem amor, os aplausos ecoaram pela igreja. Elisa sentiu as mãos suarem dentro das luvas rendadas, e seu coração acelerou como se pedisse para fugir dali. Eduardo, firme, segurou sua mão, guiando-a até a saída como quem conduz um contrato assinado, sem perceber o aperto quase doloroso que imprimia nos dedos dela.

No carro luxuoso que os levou à recepção, o silêncio reinava. Elisa olhava pela janela, buscando no horizonte algum sinal de liberdade, enquanto Eduardo permanecia rígido ao seu lado, com a mente tomada por cálculos e justificativas. Nenhum deles ousava falar, porque qualquer palavra poderia revelar a fragilidade que tentavam esconder.

A recepção foi grandiosa. Mesas repletas de flores e cristais, convidados brindando, fotógrafos capturando cada detalhe. Mas no centro da festa, Elisa sentia-se como uma atriz aprisionada em um papel que nunca quis interpretar. Eduardo, ao lado dela, cumpria cada gesto com a precisão de um anfitrião, mas sem um único sorriso verdadeiro.

Os olhares da sociedade recaíam sobre eles, admirando a beleza da noiva e a imponência do noivo. Mas ninguém percebia o vazio que os unia. A aliança em silêncio já se fazia presente, invisível, mas tão pesada quanto ferro.

Naquela noite, quando finalmente ficaram sozinhos no quarto do hotel, o silêncio se tornou ainda mais eloquente. Elisa tirou o véu com mãos trêmulas, evitando encarar Eduardo. Ele, por sua vez, afrouxou a gravata e se recostou na poltrona, observando-a com um misto de curiosidade e frieza.

Elisa quebrou o silêncio pela primeira vez. Sua voz baixa, mas firme, revelou mais coragem do que ela mesma acreditava ter.

“Não quero que pense que vou implorar pelo seu amor, Eduardo. Sei que não me deseja aqui, mas não escolhi isso.”

Ele arqueou uma sobrancelha, surpreso com a determinação dela.

“Nem eu escolhi, Elisa. Mas se estamos presos nessa farsa, ao menos que saibamos jogar o jogo. Não espere ternura de mim. Este casamento é apenas uma obrigação.”

As palavras caíram como punhais, mas Elisa já esperava por elas. Ainda assim, havia em seu olhar um brilho silencioso de resistência.

“Seja como for, Eduardo… não vou deixar que me destrua.”

Foi a primeira vez que ele se viu desconcertado. Havia força naquela mulher que ele não esperava encontrar.

E assim, naquela noite, a aliança em silêncio se consolidou, Não como símbolo de amor, mas como pacto entre duas almas forçadas a caminhar lado a lado, cada uma lutando contra suas próprias feridas. Elisa ficou em um quarto da suite e Eduardo em outro.

A cidade dormia, e o brilho das estrelas parecia zombar dos dois. Enquanto os convidados celebravam em suas casas o casamento do ano, Elisa e Eduardo enfrentavam a dura realidade: estavam unidos, mas separados por um muro invisível, erguidos pela vontade de outros.

O futuro era incerto, mas uma coisa estava clara ... a guerra silenciosa entre

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