A quinta-feira amanheceu com um céu limpo e um silêncio acolhedor. Helena acordou antes do despertador, como sempre, mas dessa vez com o coração inquieto. Na noite anterior, Bianca havia lhe feito um convite inesperado: participar da noite de leitura no Café Aurora.
— É só um texto — dissera Bianca. — Só sua voz. Só você.
Helena havia hesitado. Nunca lera nada em voz alta. Nunca se expôs. Seus cadernos eram refúgios, não vitrines. Mas havia algo na forma como Bianca falava — uma certeza tranquila, uma fé que não exigia garantias — que a fez considerar.
Passou a manhã relendo seus textos. Separou alguns, rabiscou outros, descartou muitos. No fim, escolheu um que havia escrito há duas semanas, numa noite em que se sentia invisível.
“Eu sou feita de silêncio.
Mas meu silêncio grita.
Grita por mim.
Grita por quem nunca me ouviu.
Grita por quem ainda vai me escutar.”
Dobrou a folha com cuidado e a guardou no caderno. Sentia o estômago revirar, como se estivesse prestes a pular de um penhas