Kaleo
Poder é aprender a estrutura do medo e construir portas onde antes só havia parede. Na semana seguinte ao quase-acidente, redesenhei o perímetro da vida de Layla.
Troquei as trancas do apartamento dela, instalei câmeras quase invisíveis, dupliquei as rotas de fuga. Dois homens meus passaram a se revezar na esquina, discretos, roupa comum, olhar atento. A campainha agora tinha identificação por vídeo.
O celular dela ganhou um app que só eu e Mag sabemos usar, um pânico silencioso, três toques que me chamam mesmo se o mundo estiver em modo avião.
— Você transformou minha casa num cofre. — Layla disse, braços cruzados, observando o eletricista fechar a última tomada.
— Cofres são ótimos para coisas que não posso perder.
— E eu virei “coisa”?
— Você virou parâmetro.
Ela revirou os olhos, mas a mão passou pelo novo trinco com um carinho que não era de quem desaprova. Quando os técnicos foram embora, fizemos o ritual do chá ruim e do silêncio bom. Ela me olhou por cima da caneca.
—