Kaleo
No xadrez da cidade, algumas peças acreditam que se movem sozinhas. Bart e Soraya, por exemplo. Humilhados, fizeram o que os covardes fazem quando perdem seu público, juntaram as sombras, juraram vingança com a boca cheia de nada e acharam que o escuro os tornaria inteligentes.
Eu assisti do alto, na varanda da minha cobertura, e depois do chão, com as mãos nos bolsos. Predadores não piscam. Só acompanham o pulso da presa.
O primeiro movimento deles foi pueril, ligações anônimas para doadores menores da ONG, boatos sobre “irregularidades”. Em vinte e quatro horas, eu tinha o roteiro, os números, o caminho do dinheiro.
Liguei para três pessoas, enviei dois relatórios com números que falam mais alto que fofoca, e os boatos morreram como vela no vento. Soraya trocou de estratégia, passou a distribuir sorrisos venenosos em cafés onde sabia que voluntários se reuniam.
Eu coloquei alguém duas mesas atrás e outro no caixa. Bastou um vídeo curto de Soraya recebendo um envelope de Bar