Kaleo
A semana seguiu com armadilhas rasteiras. Um e-mail falso pedindo atualização bancária da ONG, um telefonema de “fornecedor” exigindo pagamento emergencial, uma página anônima em rede social insinuando maus-tratos.
Eu cortei cada fio com os dedos que aprendi a usar para construir e destruir. Em um fim de tarde, segui Bart até um estacionamento afastado. Soraya o esperava dentro do carro, motor ligado, as mãos inquietas no volante.
— Vai funcionar? — ela perguntou, a voz sem perfume.
— Tudo funciona quando a gente quer. — ele devolveu, tentando recuperar a máscara, mas a cola já não grudava.
Eles saíram com a mochila que eu já conhecia, atravessaram duas quadras e pararam numa rua lateral que dava no muro dos fundos da ONG. Eu já tinha um carro ali, outro na esquina, ninguém veria.
Observando os dois, tive uma memória do meu irmão, Adrian me ensinando que às vezes a maior coragem é dar meia-volta. Bart nunca aprendeu.
Quando os dois tentaram pular o muro, as luzes do pátio acen