Layla
Se eu pudesse escolher, compraria uma versão silenciosa de mim. Uma que não repete cenas, não reabre feridas, não compara beijos. Mas a versão que eu tenho pensa demais e dorme de menos.
Quando Bart mandou mensagem com um convite, jantar romântico, “só nós dois”, promessa de esquecer o mundo, eu aceitei porque a alternativa era continuar ouvindo meus próprios passos dentro do crânio.
— “Vista algo que você ama.” — ele escreveu — “Hoje eu quero te lembrar do porquê nós dois.”
Eu vesti um vestido que a Helen chama de “coragem macia”: verde escuro, decote que parece sussurro, tecido que abraça sem prender. No espelho, a mulher me olhou com olhos que já viram mais do que gostariam. Ajeitei o colar de safiras que Bart me deu e sussurrei para o meu reflexo:
— Foco. Hoje é sobre o que está certo.
O restaurante tinha luz de vela até no corredor. Hostess com sorriso treinado, um arranjo de flores discretas na nossa mesa, aquela trilha sonora que faz qualquer conversa parecer cena de fil