Layla
A semana começou como uma pilha de pratos que você tenta equilibrar com uma mão só. Na ONG, os filhotes chegaram desnutridos, a ração atrasou, a visita da escola foi remarcada duas vezes, e eu ainda precisava organizar o relatório da auditoria que a fundação de Kaleo exigiu. Dormir virou um conceito abstrato, comer, um item decorativo na agenda.
Mesmo assim, a minha cabeça não desocupou a prateleira onde Bart e Kaleo ficaram lado a lado, feito dois livros que eu não consigo decidir qual doar. Foi aí que os pequenos arranhões começaram a virar cortes.
Primeiro: atrasos. Bart sempre foi pontual. Ultimamente, virou poeira de relógio. Chegava vinte, trinta minutos depois, com desculpas eficientes demais para soarem verdadeiras.
— Trânsito, amor. Um inferno. — ele dizia, e a mão vinha com um beijo de compensação.
Segundo: a tela do celular. Mensagens apagadas, conversas com título mudo, um “já te ligo” que não virava ligação. Eu não sou paranóica, sou prática.
Não perguntei de cara.