Kaleo
A festa termina, mas eu não. O elevador corta os andares como nuvens no céu e me despeja na cobertura. Eu tiro o blazer sem acender as luzes. Preciso do escuro. Preciso que a cidade brilhe sozinha para que eu ouça apenas o barulho que importa: o do meu próprio sangue.
O beijo.
Ainda está na minha boca, como se ela tivesse deixado uma cicatriz quente. Encosto as mãos no parapeito da varanda e deixo o vento queimar os pulmões. Não vou recuar. Chega de ensaios. Toda vez que tentei encostar a faca na garganta dela, o corpo me traiu. A mão que mata é a mesma que puxa. Ridículo. Mas real.
Penso em Adrian.
O nome abre uma porta que jamais fecha. O rosto dele volta inteiro, a infância de joelhos ralados e heróis de papel, a adolescência em que ele achava que o mundo podia ser corrigido com conversa. Eu sempre soube que o mundo obedece quando alguém torce seu braço. Ele queria convencer. Eu, dobrar. Dois métodos, uma família.
Aquela noite, a noite, não existe apenas no passado, ela vive