O ar cheirava a terra molhada e ferrugem. Cada respiração de Elô ardia como fogo em seus pulmões, mas não era dor que a dominava — era um êxtase sombrio. A sombra corria por suas veias, pulsando em ritmo próprio, e, pela primeira vez, ela não lutava contra isso. Ela se rendia.
Miguel e Clara observavam, imóveis, como se estivessem diante de algo que não deveriam testemunhar. O corpo de Elô parecia humano apenas em contornos, mas os olhos — dois abismos incandescentes — denunciavam que algo antigo e selvagem havia tomado lugar ali.
A primeira criatura atravessou os escombros da porta, uma massa de músculos e garras, com a pele cinzenta que parecia feita de pedra rachada. Ela avançou com um rugido gutural, mas parou no meio do caminho. Elô não precisou tocar nele. Bastou erguer a mão, e as sombras do teto desceram como cordas vivas, envolvendo o monstro até esmagar cada osso em um estalo seco.
O sangue escorreu no chão. Elô não piscou.
— Santo Deus... — Clara murmurou, a mão na boca, se