A madrugada havia sido longa e cruel. Elô despertou com os primeiros raios de sol invadindo o quarto pela fresta da janela, mas não sentiu descanso. O corpo latejava de dor, e a mente parecia ainda mais pesada. O sussurro da sombra a acompanhara durante toda a noite, como um companheiro invisível que se recusa a ir embora.
Sentou-se na cama, os pés tocando o chão frio, e respirou fundo. O ar da vila tinha cheiro de madeira queimada e terra úmida. Do lado de fora, escutava-se o burburinho dos moradores que reerguiam suas vidas após mais uma noite marcada pelo medo. Elô sabia que todos a olhariam diferente. Não era mais apenas uma forasteira, mas a garota que carregava algo estranho e perigoso.
O reflexo no espelho pequeno e rachado sobre a mesa a fez estremecer. Havia algo em seus olhos que não reconhecia: uma sombra que não desaparecia, mesmo quando ela piscava. Aproximou-se devagar, estudando a própria imagem.
"Não lute contra isso."
A voz ecoou, firme, como se viesse de dentro do es