Clarence enxugava os olhos quando a terapeuta, após lhe dar um tempo para respirar, inclinou-se levemente para a frente. Sua voz tinha a suavidade de quem oferece colo, mas a firmeza de quem estabelece um caminho:
— Clarence, o que você me mostrou hoje é um retrato vivo de alguém que foi apagada, podada, condicionada a não existir. A sua fala, o seu corpo, até o seu modo de se vestir gritam silêncio.A paciente abaixou os olhos, constrangida, como se tivesse sido pega em flagrante.— Eu vejo, pelo jeito que você está vestida, que sobra demais. — continuou a terapeuta. — É como se dissesse ao mundo: “não me vejam, eu não quero ser notada”. Mas, na verdade, o que acontece é que essa roupa, sempre sóbria demais, escura demais, lhe envelhece, lhe austera. Você tem cinquenta e poucos anos, Clarence, mas está se mostrando como se tivesse oitenta.Clarence abriu um sorriso tímido, ainda molhado de lágrimas, e disse num fio de voz:— Eu nunca pensei n