CAPÍTULO 2

Ao inserir a chave na porta, sua mão trêmula a fez hesitar, e ela respirou fundo, tentando reunir forças, como se atravessar aquele limiar fosse uma tarefa monumental.

— O silêncio, que a recebia, não era o doce sussurro da paz que desejava; era um silêncio pesado, opressor, que pairava nas paredes de uma casa que havia esquecido o que era amor.

— A porta rangeu ao ser empurrada, revelando a visão de Mattia sentado à mesa, as mãos entrelaçadas numa tentativa vã de parecer apresentável.

—Ele era um espectro de si mesmo, sua luta contra demônios refletida em seus olhos vermelhos e no aroma inconfundível do álcool que o envolvia como uma névoa maligna.

Quando finalmente ergueu o olhar para ela, Opal percebeu que, por trás de seu esforço para se mostrar sóbrio, havia uma vulnerabilidade profunda.

— Opal… — disse ele, uma fraqueza na voz que contrastava com a autoridade que um pai deveria ter.

— Como foi lá? Suas palavras ecoaram no ar, mas Opal decidiu ignorar, assim como tudo o que lhe era oferecido.

—Caminhou lentamente até a pia, colocando a bolsa sobre a mesa com a força de alguém que finalmente tinha retirado um peso dos ombros.

—Sob a água fria que escorria, começou a lavar as mãos, transformando aquele ato simples em um ritual de purificação, uma maneira de enxaguar não apenas a sujeira física, mas também as marcas do dia — a dor da conversa, o peso do olhar de Atticus, o nojo de saber que o pai a tinha oferecido como uma solução desprezível.

Mattia se aproximou, a insegurança evidente em seus movimentos, quase como um animal ferido tentando reconquistar o que resta.

— Filha… eu sei que você deve estar chateada…

—Ela fechou a torneira com força, como se quisesse interromper também o fluxo das palavras inúteis que vinham do pai.

— Eu não estou chateada, pai, — sua voz saiu magoada, e controlada, mas a dor é visível, que a surpreende.

— Eu estou… cansada, papai farta, de sua irresponsabilidade e egoísmo. Mattia engoliu em seco, sentindo o peso de cada palavra dela.

— Eu… precisarei sair hoje mais … mas volto cedo.

Opal olhou para ele com um olhar vazio e cansado, como alguém que já havia esgotado todas as esperanças de salvá-lo da própria destruição.

— Para mim… tanto faz o que o senhor faz da sua vida.

— Ela virou as costas e avançou firmemente em direção à porta, decidida. — O senhor escolheu seu caminho há muito tempo.

—Mattia se aproximou mais, baixando a voz, na esperança de que o afeto oculto ainda existisse.

—Ele estava desesperado para arrancar algum traço da filha que ele mesmo destruiu.

— Opal, eu estou tentando arrumar as coisas… eu vou ao cassino hoje, vou acertar com o senhor Sttorn, vou resolver…

Ela se virou devagar, os olhos marejados, mas sem lágrimas, como se a dor houvesse secado suas emoções ao ponto de não conseguir mais chorar.

— O senhor não vai “resolver” nada, pai, o senhor arrumou essa confusão.

— Sua voz era uma mistura de dor e cansaço mortal, um lamento que ressoava nos corredores escuros da casa.

— O senhor vive tentando resolver, prometendo, e quebrando suas promessas, como sempre fez.

—E quem paga sempre sou eu, Mattia baixou a cabeça, a culpa e a impotência pesando sobre ele.

— Eu vou voltar cedo, prometo… — murmurou, mas a frase soou como uma sombra das promessas quebradas que já haviam ecoado antes.

Ela soltou uma risada curta, desprovida de humor, repleta de desprezo pela esperança que um dia já tivera.

— As promessas do senhor já mataram a mamãe.

—E quase me mataram hoje, assim que as palavras deixaram seus lábios, elas atingiram Mattia como um soco no estômago, deixando um vazio pulsante.

Ele abriu a boca para falar, mas sua voz falhou, como se a realidade ecoasse um silêncio que nenhuma palavra poderia preencher. Opal passou por ele, buscando alívio no quarto, um espaço onde sua dor poderia se manifestar sem juízos.

— Pode sair para voltar a beber e prometer o que quiser.

— Ela apertou a maçaneta da porta com fervor, sentindo a angústia e a raiva dirigindo cada movimento.

— Eu não tenho mais nada a ver com as escolhas do senhor.

— Entrou no quarto, trancou a porta, e a solidão a envolveu como um manto pesado.

Sozinha, encostou as costas na porta e deixou escapar um soluço silencioso, como se liberar essa dor ajudasse a aliviar a carga que a esmagava.

— Fechou os olhos e, em vez de pensar em seu pai, sentiu a presença de Atticus Sttorn. Não ele não é um homem comum, mas como uma força que trazia consigo um peso inegável.

— O olhar dele, que afligia e fascinava, e a sensação perturbadora de estar na presença de alguém capaz de destruir o mundo todo — mas que, ao mesmo tempo, não tinha conseguido destruir a sua inocência.

Por algum motivo que escapava à lógica, ele parecia incomodado em vê-la, e naquele momento de escuridão, Opal percebeu que aquele homem… havia deixado algo marcado dentro dela. — Não um desejo incontrolável, mas algo mais sutil e complexo.

— Algo que a movia, que a aterrorizava, que a chamava, como uma sombra na penumbra da sua mente.

Aos poucos, ela deslizou para o chão, abraçando os joelhos, como se quisesse encontrar uma forma de se proteger do turbilhão que a aguardava.

— Amanhã, com a luz do dia que surgir, seria outra batalha, amanhã, o destino dela e do pai — seria selado por Atticus Hunters Sttorn, E será só o começo.

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