O ranger da porta foi baixo, mas, no silêncio abafado do pequeno apartamento da Mooca, pareceu um trovão. Isabela entrou puxando a mala devagar, tentando não fazer barulho — como se atrasar o inevitável pudesse suavizar o que viria.
Na sala, o ventilador velho girava preguiçoso, espantando mais a poeira do que o calor. Na cozinha, o cheiro do almoço denunciava que já estava quase ao meio-dia.
— Isa? — a voz de Dona Ivonete veio da cozinha, com surpresa e estranhamento.
A mulher apareceu na porta com o avental amarrado na cintura, uma colher de pau na mão e as sobrancelhas franzidas.
— Menina, você não vinha só domingo de manhã? Que que houve?
Isabela sorriu e largou a bolsa no chão, e sua mala ao lado do sofá.
— Mudei os planos.
— Que bom filha, assim você almoça com sua mãe, ela disse que sentiu sua falta no almoço essa semana.
— Mamãe é dramática.. Isabela disse e dona Ivonete sorri.
— O almoço tá pronto. É só colocar a maionese na salada. Tem frango assado, arroz, feijão e salada..