Mundo de ficçãoIniciar sessãoLia não conseguiu dormir.
Virou de um lado para o outro no colchão macio demais, com a sensação de que o quarto — enorme, silencioso, luxuoso — observava cada movimento dela. A mansão inteira parecia uma criatura viva, exalando a presença de Dominic mesmo quando ele não estava ali.
A cena no escritório repetia em sua mente como um filme preso em loop.
A porta entreaberta.
A voz baixa dele. A proximidade perigosa. O “mesmo querendo” que ainda queimava na pele dela.Era errado. Complicado. Imprudente.
E, mesmo assim, Lia sentia aquele desejo escondido pulsando como um segredo proibido atrás das costelas.Virou para o outro lado, puxando o cobertor até o queixo.
— Isso não pode… — murmurou para si mesma, tentando convencer o corpo a ouvir o cérebro.
Mas o corpo tinha opiniões próprias.
Quando finalmente pegou no sono, foi leve e interrompido pelo som suave de passos no corredor. Lia abriu os olhos devagar. A casa estava escura, exceto por uma luz fraca que vinha da direção da sala.
Aria?
O instinto falou mais alto que o sono.
Lia levantou, vestiu um moletom e abriu a porta do quarto com cuidado. O corredor estava silencioso como sempre, mas havia algo no ar… algo que parecia alerta, tenso. Ela seguiu a luz até a sala principal.
E então viu.
Dominic estava lá.
Sentado no sofá, ainda de camisa, sem gravata, o rosto iluminado apenas pela luz indireta da varanda.Ele segurava um copo com água, cotovelos apoiados nos joelhos, a expressão distante. Cansado de um jeito que Lia nunca tinha visto.
Aquela não era a figura do CEO bilionário capaz de mover mercados. Era um homem. Um homem que carregava peso demais nas próprias costas.Ela pensou em voltar para o quarto. Não queria parecer intrometida, e menos ainda parecia adequado encontrá-lo assim, no meio da noite.
Mas antes que pudesse dar meia-volta, Dominic ergueu os olhos.
A tensão atravessou a sala como um fio invisível.— Não queria te acordar — ele disse, a voz grave, baixa, íntima demais para aquela hora.
— Eu ouvi passos — Lia explicou, sem conseguir desviar o olhar. — Pensei que fosse Aria.
— Era eu.
Silêncio.
Dos profundos.Dominic apoiou o copo na mesa, massageando a nuca como se carregasse um dia inteiro preso ali.
— Você… está bem? — Lia perguntou, antes de conseguir impedir a própria língua de falar.
Ele riu sem humor.
Uma risada curta, quase irônica.— Eu não durmo direito — ele admitiu. — Não há muito tempo.
— Por causa do trabalho?
Dominic olhou para a janela por alguns segundos longos.
— Por causa de muitas coisas.
A resposta era sincera, carregada, mas ainda assim cheia de portas trancadas.
Lia se aproximou, parando a poucos passos do sofá.
— Posso fazer alguma coisa? — ela perguntou.
Ele levantou o rosto para ela.
Aquele olhar a atingiu como um impacto mudo. Carregado de cansaço… e de algo mais.— Você já faz — Dominic disse. — Quando está com minha filha. Quando fala com ela daquele jeito. Quando ela olha para você como se o mundo voltasse a fazer sentido. — Ele engoliu em seco. — Isso me dá paz. Mais do que você imagina.
O ar no peito de Lia ficou mais quente.
Mais apertado.— Dominic… — ela tentou dizer, mas a voz quase falhou.
Ele se levantou.
Devagar.
Como se não quisesse assustá-la. Como se medir cada movimento fosse parte de uma batalha interna.Parou diante dela.
Perto. Não o suficiente para tocá-la… mas perto o bastante para que Lia sentisse o calor dele, o perfume dele, o impacto da presença dele.— Você deveria dormir — ele disse, num tom que oscilava entre ordem e cuidado.
— Você também — Lia respondeu, sem mover um passo.
— Eu… não consigo. — Ele deu um meio sorriso quase triste. — Mas você precisa.
A respiração dos dois se misturou por um instante curto, íntimo, cheio de algo não dito.
E então Dominic fez o que ela não esperava.
Ele tocou o braço dela.
De leve.
Quase um aviso. Quase um pedido.O toque durou pouco tempo, mas atravessou o corpo de Lia como eletricidade pura.
— Boa noite, Lia — ele disse, retirando a mão devagar, como se tivesse que se forçar a soltá-la.
Ela sentiu o nome dito daquele jeito.
Sentiu na pele. No peito. No lugar proibido onde aquela sensação não deveria morar.— Boa noite… Dominic.
Ele fechou os olhos por um segundo, como se a voz dela fizesse mais efeito do que deveria.
Lia se afastou primeiro.
Não porque queria. Mas porque precisava.Subiu as escadas com o coração batendo forte demais, quente demais, rápido demais.
Quando fechou a porta atrás de si, encostou o corpo nela e deixou o ar sair devagar, tentando recuperar o controle.
Mas não havia controle.
Não mais.
A linha que separava patrão e funcionária estava ficando fina demais.
E o homem que não dormia estava começando a entrar nos sonhos dela.






