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CAPÍTULO 6 – O HOMEM QUE NÃO DORME

Lia não conseguiu dormir.

Virou de um lado para o outro no colchão macio demais, com a sensação de que o quarto — enorme, silencioso, luxuoso — observava cada movimento dela. A mansão inteira parecia uma criatura viva, exalando a presença de Dominic mesmo quando ele não estava ali.

A cena no escritório repetia em sua mente como um filme preso em loop.

A porta entreaberta.

A voz baixa dele.

A proximidade perigosa.

O “mesmo querendo” que ainda queimava na pele dela.

Era errado. Complicado. Imprudente.

E, mesmo assim, Lia sentia aquele desejo escondido pulsando como um segredo proibido atrás das costelas.

Virou para o outro lado, puxando o cobertor até o queixo.

— Isso não pode… — murmurou para si mesma, tentando convencer o corpo a ouvir o cérebro.

Mas o corpo tinha opiniões próprias.

Quando finalmente pegou no sono, foi leve e interrompido pelo som suave de passos no corredor. Lia abriu os olhos devagar. A casa estava escura, exceto por uma luz fraca que vinha da direção da sala.

Aria?

O instinto falou mais alto que o sono.

Lia levantou, vestiu um moletom e abriu a porta do quarto com cuidado. O corredor estava silencioso como sempre, mas havia algo no ar… algo que parecia alerta, tenso. Ela seguiu a luz até a sala principal.

E então viu.

Dominic estava lá.

Sentado no sofá, ainda de camisa, sem gravata, o rosto iluminado apenas pela luz indireta da varanda.

Ele segurava um copo com água, cotovelos apoiados nos joelhos, a expressão distante. Cansado de um jeito que Lia nunca tinha visto.

Aquela não era a figura do CEO bilionário capaz de mover mercados.

Era um homem.

Um homem que carregava peso demais nas próprias costas.

Ela pensou em voltar para o quarto. Não queria parecer intrometida, e menos ainda parecia adequado encontrá-lo assim, no meio da noite.

Mas antes que pudesse dar meia-volta, Dominic ergueu os olhos.

A tensão atravessou a sala como um fio invisível.

— Não queria te acordar — ele disse, a voz grave, baixa, íntima demais para aquela hora.

— Eu ouvi passos — Lia explicou, sem conseguir desviar o olhar. — Pensei que fosse Aria.

— Era eu.

Silêncio.

Dos profundos.

Dominic apoiou o copo na mesa, massageando a nuca como se carregasse um dia inteiro preso ali.

— Você… está bem? — Lia perguntou, antes de conseguir impedir a própria língua de falar.

Ele riu sem humor.

Uma risada curta, quase irônica.

— Eu não durmo direito — ele admitiu. — Não há muito tempo.

— Por causa do trabalho?

Dominic olhou para a janela por alguns segundos longos.

— Por causa de muitas coisas.

A resposta era sincera, carregada, mas ainda assim cheia de portas trancadas.

Lia se aproximou, parando a poucos passos do sofá.

— Posso fazer alguma coisa? — ela perguntou.

Ele levantou o rosto para ela.

Aquele olhar a atingiu como um impacto mudo.

Carregado de cansaço… e de algo mais.

— Você já faz — Dominic disse. — Quando está com minha filha. Quando fala com ela daquele jeito. Quando ela olha para você como se o mundo voltasse a fazer sentido. — Ele engoliu em seco. — Isso me dá paz. Mais do que você imagina.

O ar no peito de Lia ficou mais quente.

Mais apertado.

— Dominic… — ela tentou dizer, mas a voz quase falhou.

Ele se levantou.

Devagar.

Como se não quisesse assustá-la.

Como se medir cada movimento fosse parte de uma batalha interna.

Parou diante dela.

Perto.

Não o suficiente para tocá-la… mas perto o bastante para que Lia sentisse o calor dele, o perfume dele, o impacto da presença dele.

— Você deveria dormir — ele disse, num tom que oscilava entre ordem e cuidado.

— Você também — Lia respondeu, sem mover um passo.

— Eu… não consigo. — Ele deu um meio sorriso quase triste. — Mas você precisa.

A respiração dos dois se misturou por um instante curto, íntimo, cheio de algo não dito.

E então Dominic fez o que ela não esperava.

Ele tocou o braço dela.

De leve.

Quase um aviso.

Quase um pedido.

O toque durou pouco tempo, mas atravessou o corpo de Lia como eletricidade pura.

— Boa noite, Lia — ele disse, retirando a mão devagar, como se tivesse que se forçar a soltá-la.

Ela sentiu o nome dito daquele jeito.

Sentiu na pele.

No peito.

No lugar proibido onde aquela sensação não deveria morar.

— Boa noite… Dominic.

Ele fechou os olhos por um segundo, como se a voz dela fizesse mais efeito do que deveria.

Lia se afastou primeiro.

Não porque queria.

Mas porque precisava.

Subiu as escadas com o coração batendo forte demais, quente demais, rápido demais.

Quando fechou a porta atrás de si, encostou o corpo nela e deixou o ar sair devagar, tentando recuperar o controle.

Mas não havia controle.

Não mais.

A linha que separava patrão e funcionária estava ficando fina demais.

E o homem que não dormia estava começando a entrar nos sonhos dela.

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