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CAPÍTULO 5 – O PRIMEIRO LIMITE QUEBRADO\

Lia passou a tarde tentando ocupar a mente com tarefas simples: organizar brinquedos, arrumar o quarto de Aria, revisar a lista de horários. Mas nada adiantava. O pensamento insistia em voltar ao escritório secreto de Dominic. A porta entreaberta. A maneira como ele dissera “ou pode ficar”.

Aquilo não era casual. Não era educado. Era… outra coisa.

E Lia sabia reconhecer perigos quando os encontrava.

Mas também sabia quando algo mexia com ela de um jeito que era impossível ignorar.

A rotina do fim da tarde era tranquila. Aria brincava em silêncio, sentada no tapete do quarto, enquanto Lia guardava algumas roupas pequenas numa cômoda. A menina parecia confortável, leve, como se já tivesse decidido que Lia fazia parte do pequeno mundo dela.

— Quer pintar? — Lia perguntou, mostrando um conjunto de lápis de cor.

Aria assentiu com um movimento quase imperceptível, mas com brilho nos olhos.

Elas se sentaram juntas. A menina começou a desenhar linhas tortas e coloridas, e Lia percebeu que cada traço tinha intenção. Aria não era distante. Só tinha aprendido a viver protegida dentro de si.

— Você é incrível, sabia? — Lia murmurou.

Aria olhou para ela e, pela primeira vez, sorriu. Um sorriso pequeno, tímido. Mas sorriso.

Lia sentiu o peito apertar de emoção.

— Ela sorri? — disse uma voz masculina à porta.

Lia virou rápido.

Dominic estava apoiado no batente, sem jaqueta, com a camisa social aberta no colarinho, como se tivesse acabado de sair de uma reunião longa demais. O cabelo um pouco bagunçado. A expressão… diferente. Um tipo de surpresa misturada com algo que Lia não sabia nomear.

— Ela acabou de sorrir para mim — Lia disse, ainda maravilhada. — Acho que é uma vitória.

Dominic não tirava os olhos da filha.

E, pela primeira vez, Lia viu algo que nunca esperou: fragilidade.

Um pai tentando alcançar a própria criança.

Ele se aproximou devagar, como quem teme assustar as duas.

Aria parou de desenhar. Observou o pai com atenção, mas não se encolheu. Só ficou quieta. Atenta.

— Oi, pequenina — Dominic disse baixinho.

Lia sabia que não era comum. Charles comentara que Dominic quase nunca tinha esse acesso, esse momento, esse espaço íntimo com a filha. Ele tentava. Ele desejava.

Mas Aria não o deixava chegar perto.

E agora, naquele quarto iluminado suavemente, com lápis coloridos espalhados pelo chão… Aria deixou.

Ela estendeu um desenho para o pai. Um rabisco azul.

Lia prendeu a respiração.

Dominic pegou o papel como se segurasse algo precioso demais para existir.

— Obrigado — ele disse à filha, com a voz rouca. — É lindo.

Aria encostou no braço de Lia, se acolhendo ali.

E Dominic viu.

Viu tudo.

A conexão.

A entrega.

A confiança que ele não conseguia alcançar.

Era impossível não sentir a mudança no ar.

— Ela gosta de você — ele disse para Lia. — Gosta muito.

— Eu gosto dela também — Lia respondeu, porque era verdade.

Dominic assentiu, os olhos fixos nela. Não como patrão. Não como CEO.

Como homem.

— Isso é… bom — ele disse, mas a voz saiu mais baixa, carregada de algo que escapava ao controle dele.

Mais tarde, quando Aria dormiu, Lia caminhou pelo corredor vazio. Pretendia ir para o próprio quarto, descansar, apagar a mente. Mas ao passar pelo escritório entreaberto… ela parou.

A porta estava aberta novamente. Não escancarada. Apenas o suficiente para convidar.

Uma luz quente escapava pelas frestas.

Lia sentiu um chamado silencioso, um impulso inexplicável.

Antes que pudesse resistir, deu dois passos.

Depois mais um.

E entrou.

O cheiro do ambiente era diferente do resto da casa. Ali havia madeira, tinta, algo humano. As paredes exibiam fotografias ainda sem moldura. Fragmentos de memórias que Dominic nunca expunha para ninguém.

Lia tocou um quadro apoiado no chão. Era um desenho de Aria, feito por ela meses antes, segundo a data no canto. A criança parecia mais triste no papel do que era na vida real.

— Não costumo receber visitas aqui.

Ela se virou.

Dominic estava à porta.

O terno tinha ficado em algum lugar da casa. Ele vestia só a camisa, os botões do colarinho soltos, as mangas dobradas.

Era tarde demais para disfarçar a tensão que se formou entre os dois.

— A porta estava aberta — Lia disse, baixinho.

— Eu sei.

Ele entrou devagar. Cada passo parecia intencional.

— Talvez eu tenha deixado assim.

O coração dela acelerou.

— Dominic… — ela começou, mas não sabia onde queria chegar.

— Não precisa dizer nada. — Ele se aproximou, parando a uma distância que incendiava o ar. — Só quero… entender o que está acontecendo aqui.

Ele ergueu uma mão, não para tocar, mas para chegar perto o suficiente para que ela sentisse o calor da pele dele.

— Você mexeu com esta casa — ele disse. — Com a minha filha… e comigo.

Lia sentiu o corpo inteiro reagir.

O pensamento gritava cuidado, mas o coração deixava as palavras mais fracas do que deveriam ser.

— Eu só estou fazendo meu trabalho — ela sussurrou.

— Não — ele disse, com uma convicção que arrepiou sua pele. — Você está fazendo muito mais do que isso.

A respiração de Lia ficou curta.

Dominic estava perto demais. Quente demais. Intenso demais.

Mas não tocou.

Ele chegou apenas o suficiente para que o mundo diminuísse até caber naquele espaço entre os dois.

— E este é o limite que não posso cruzar — ele murmurou. — Mesmo querendo.

O silêncio entre eles queimava.

Lia afastou um passo. Precisava.

As pernas tremiam, não de medo, mas da intensidade de tudo aquilo.

— Boa noite, senhor Hale — ela disse antes que o corpo decidisse por ela.

— Boa noite, Lia.

Quando ela saiu do escritório, sentiu o olhar dele acompanhá-la até a última fresta de luz desaparecer.

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