Lia Ramos segurava o currículo dobrado dentro da bolsa, ele era tudo o que ela tinha. O ônibus sacolejava pela avenida e, a cada freada, o estômago dela lembrava que estava vazio desde cedo. Sobreviver tinha virado rotina, mas naquele dia pesava diferente.Ela havia acordado com a conta de luz atrasada, a geladeira quase vazia e a última recusa de emprego ainda martelando na cabeça. Desde o fim do relacionamento, a vida parecia um corredor estreito demais para respirar. Ela andava, mas sentia que tudo apertava em volta.O ponto final chegava e, com ele, a fila de gente apressada indo atrás dos próprios destinos. Lia desceu devagar, tentando não pensar em como a cidade inteira parecia ter um lugar para ir. Menos ela.Entrou no pequeno café da esquina. Era quente, cheirava a pão fresco e tinha mesas apertadas que pareciam cochichar histórias umas às outras. Lia pediu apenas um café preto, mais por necessidade do que por gosto, e se sentou perto da janela. O sol batia no vidro, deixando
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