Paula Moretti
Ele hesita, olhando para o nosso pai, que dá um aceno breve e sombrio.
— O Bruno disse que Mário… não é filho de Nicolo.
O ar sai dos meus pulmões como se eu tivesse levado um soco. Aquilo me choca. As peças do quebra-cabeça monstruoso começam a se encaixar de uma forma nova e horrível. Agora entendo a profundidade daquela dor no olhar de Nicolo.
Não era só por me ver daquela forma, não era só pela traição do filho que ele julgava morto. Era pela aniquilação completa da sua paternidade. Era a negação do seu próprio sangue, do seu legado. A traição era tão profunda, tão íntima, que beirava ao inconcebível. E ele estava agora em uma situação ainda mais delicada, física e emocionalmente esfacelado.
No dia seguinte, acordo sentindo-me um pouco mais presente, ainda que cada músculo do meu corpo proteste com o menor movimento. O médico responsável por Nicolo entra no meu quarto, seu rosto sério. Meu pai e meu irmão estão presentes, fazendo uma segurança silenciosa.
— A primeir