Paula Moretti
A escuridão não é mais uma inimiga. É um casulo, um lugar onde a dor existe apenas como um eco surdo, distante. Mas mesmo neste vazio, há um fio que me prende à realidade, um fio que puxa suavemente e é insistente.
A memória de uma voz. Uma voz grave, rouca de dor e emoção, que cortou através do breu e do meu desespero.
— Estou aqui, meu amor. Estou aqui.
São as palavras que ecoam na minha mente, uma melodia que afasta os pesadelos. Quando finalmente abro o olho que não está tão inchado, vejo um milagre.
Nicolo estava ali, o meu coração não acelera de medo. Ele se alegra. É um alívio tão profundo e tão absoluto, que anula por um instante a agonia em cada centímetro do meu corpo.
Ele se ajoelha e suas mãos, as mesmas que já cometeram diversas atrocidades, estavam acariciando minha pele com uma devoção que me deixava sem ar, ele tocava o meu rosto com uma reverência que me faz chorar. As lágrimas escorrem quentes pelos meus ferimentos, mas eu não me importo. Ele está aqui.