Paula Moretti
A luz suave sobre a mesa de jantar lançava reflexos dançantes na fina louça branca e na taça de cristal onde o vinho tinto repousava, como sangue escuro e adormecido. Sentada, sentia o peso do silêncio que se estendia entre nós, mais espesso que a pesada toalha de linho.
Cada garfada na lasanha que eu levava à boca parecia exigir um esforço monumental. O sabor, que há minutos cheirava a conforto, agora tinha a textura de serragem. Estava construindo, fibra por fibra, a coragem para fazer o pedido.
A imagem de Dante, parado na penumbra da sala, seus olhos escuros fixos em mim enquanto eu tentava extrair beleza de um piano desafinado, era uma sombra fria na minha nuca. Não foi o que ele fez, foi o que ele não fez que estava me incomodando.
Ele deveria ter anunciado a sua chegada, não tossiu, não fez um ruído educado. Apenas… apareceu. Como um predador avaliando sua presa. A sensação de invasão, de um território íntimo violado, enrijeceu meus ombros.
Nicolo comia com a efici