Paula Moretti
A cidade se estendia diante de mim, uma tapeçaria de luzes trêmulas que começavam a cintilar contra o véu do crepúsculo. De pé, encostada na moldura fria da janela do nosso quarto, eu sentia o peso do mundo e o peso das palavras de Nicolo como se fossem a mesma coisa. Elas ecoavam dentro de mim, um som grave e surdo que abafava até o ruído distante do trânsito.
Evitar um bebê.
Três palavras. Três pequenas facas que, mesmo entendendo a lógica por trás delas, a instabilidade, o perigo, a prematuridade de tudo, perfuravam um sonho que eu nem sabia que carregava com tanta força.
Não era sobre agora. Deus sabe que não. Era sobre a possibilidade.
Sobre algo como um talvez. Da forma como Nicolo falou, ficou claro que ele estava fechando uma porta e agora eu temia que nunca mais se abrisse. Senti um frio na alma, aquele tipo de frio que nem mesmo o casaco mais grosso aquece.
Sentia o medo de que a vida prática, a política e o poder sufocassem para sempre o desejo simples de um d