Nicolo Moretti
A fúria ainda fervia em mim, um veneno negro que me sufocava por dentro. O desejo de machucá-la, de ver a filha de Caterino sangrar tanto quanto eu sangrava por dentro, era um impulso quase incontrolável.
Mas então veio o tapa. Aquele golpe seco e inesperado. A dor foi insignificante, mas o choque… o choque foi como um balde de água gelada. Ninguém, ninguém, havia ousado fazer aquilo comigo em décadas.
E a coragem estúpida e suicida, daquela ação, foi seguida por um choro que não era de medo ou arrependimento. Era de compaixão.
Compaixão.
Por mim.
A filha do homem que eu acreditava ter matado meu filho sentia pena de mim. Aquilo era um insulto de uma magnitude tão profunda que me deixou sem reação. Era uma arma que eu não sabia como combater.
Levantei, precisava extrapolar a fúria que estava dentro de mim, minhas mãos seguravam o tecido da minha camisa e puxei rasgando, parecia uma representação do meu próprio estado interior. E a visão do tornozelo dela, inchado e roxo