O olhar de Enzo. capítulo 27
O vidro espelhado do vigésimo primeiro andar devolvia o reflexo distorcido da figura que caminhava pelo corredor com passos firmes, mas arrastados. Isabella tinha o coque apertado que prendia mais do que o cabelo. O salto dela estalava seco no mármore como uma sentença. Ela tinha ombros erguidos demais, queixo tenso, mas havia algo nos olhos dela um vazio que só quem já amou sabia reconhecer.
Enzo observava ela da sala ao lado, meio encoberto pela divisória de vidro fosco. Como ele sempre fazia, invisível, mas presente. O mundo ao redor seguia o ritmo habitual da Nexus Solutions, mas o silêncio entre os dois era outra frequência, e agora era insuportável.
Ela passou direto sem vê-lo. Ou fingiu não ver.
Ele fechou os olhos por um segundo, os dedos ainda úmidos de café, apertaram com força a pasta que carregava. Não era sobre códigos ou sistemas, era sobre ela, sobre a forma como ela agora atravessava os próprios dias, como quem atravessa uma tempestade vestida de uma armadura rachada.