A Mentira que Protege. Capítulo 32
O vidro da sala de reuniões devolvia à Isabella uma versão deformada de si mesma, um vulto impreciso contra o cinza impessoal de Avalon City. Lá fora, a cidade seguia seu ritmo acelerado, indiferente. Ali dentro, o tempo parecia conter a respiração.
Ela não se movia, os braços cruzados com força, como se o próprio corpo quisesse segurar algo que ameaçava se despedaçar por dentro. Os dedos apertavam o tecido fino da blusa, deixando vincos invisíveis. O coque preso rente à nuca denunciava disciplina, mas a rigidez do pescoço falava de alerta, de resistência.
A porta abriu. Seca. Pontual. Sem anúncio.
Enzo entrou como quem atravessava um campo minado, fechou a porta com um gesto mínimo, o clique ressoando na sala como um ponto final.
Ele parou e não disse nada. Os olhos dele encontraram as costas dela primeiro, a linha dos ombros, o contorno tenso da coluna sob o tecido claro. Cada detalhe era um mapa que ele aprendera a ler com os olhos fechados.
Ele sabia, que a postura dela dizia mais