Helena não fez menção de recuar ou desistir do negócio, Johnson suava frio, nervoso com a presença dela. — Fui aconselhado a não entrar no fogo cruzado, Major. - Johnson tomava coragem para quebrar o silêncio. — É um conselho sábio. - Helena sorriu. Johnson interpretava aquilo como predação. "Sério que eu considerava esse animal como uma amiga?" Ele constatava algo que não desejava compreender, de verdade, ele estava sentindo medo de Helena. - Devo me preocupar com a qualidade dos documentos que solicitei? — Não, o padrão está mantido. - Ele respondeu, entre bocadas. - Mas, quando fiz as análises, que são inevitáveis nesse trabalho, tinha informações incongruentes. — Tipo? - Helena gostava da perspectiva de Johnson sobre as coisas. — Tipo que, consolidada, significaria que a unidade está corrompida e é perigosa. Papo bravo de envolvimento com o crime organizado de forma geral. - Johnson percebia a verdade, ainda que apenas uma sombra. — Tenho uma proposta, querido. - Helena most
"Vingativa!?" Dario ouvia as palavras serenas de Helena, que suavemente girou sobre si, para entrar. O vislumbre do olhar, de canto de olhos, daquele azul acinzentado, fez o homem sentir algum estremecimento, algo que congelava-o por dentro. — Vamos voltar! - Ela anunciou, voltando aos equipamentos. - Tenho tarefas que preciso resolver. Nós nos separamos em Nova York.— Para onde vai, Helena? - Dario se desesperava, segurando Helena pela mão. - A gente acabou de ser entender, vida. Não faz isso com a gente. - Ela parou de avançar. — Vou resolver pontas soltas, Dario. - Ela disse, friamente. Entendia o que precisava ser feito para garantir segurança e monopólio das operações e não seria simples. Dario havia se tornado Mictlán, era alguém a quem temer em toda a fronteira e, agora, ela tinha um explicação: ele nunca deteve a exclusividade da fronteira, como por anos, ela acreditou, mas era o gigante, sozinho, capaz de operar, fazendo frente a um conglomerado de um sem número de nomes,
— Meu vôo adiantou. Quer patinar? - Helena mandava para Rafael, de um número local. — Agora? - Rafael percebia o adiantado da hora, onze da noite. — Estou na pista. Joguei com a sorte, paixão. Quanto tempo será que tem? - Ela seduzia, enviando para ele um vídeo da pista, vazia. Estava em movimento. Rafael apenas saiu, gostava daquela imprevisibilidade. Ela era linda e, ao que parecia, intrigante. Militar, alta parente, treinamento de ponta, desenvolta. Causaria uma guerra, mas não seria tão ruim, especialmente, se o colocasse no comando. Ela era um desastre anunciado, para o qual ele corria, de coração acelerado, inexplicavelmente. A pista de patinação parecia fechada, mas tinha música e o foco de luz se deslocava lá dentro. Rafael entrou, sorrateiro, porta lateral entreaberta, da frente não conseguia ver o ringue. Armou-se e entrou, devagar. O tranco, de cima, montava em sua nuca, enfiando os pés em seus cotovelos, fazendo-o arremessar a arma longe, Helena estava sentada nas cost
Helena disparou, uma corrida frenética a qual Rafael acompanhava. Havia um complicador, a mulher praticava parkour, fisicamente, muito ágil e destemida. Sem perceber, ele se via frente a frente com a deusa de sonhos picantes da madrugada anterior, percebia um sem número de cicatrizes no peito arfante e no abdômen que o impressionavam. "É um demônio! Quem vive com esse tanto de perfuração?" Ele a notava armar a guarda, enfrentava-o.O plano dela era simples: perder. As paixões fulgazes eram informantes muito poderosas, mas não sem dar um bom tanto de trabalho, já que surgiam da supremacia física, nada relevante, em termos de relação, do instinto de superioridade e, por fim, proteção. Helena se servia da lógica da biologia para entrar naquela aventura. Rafael não se deu ao trabalho de parar, como corrida, entrava naquele combate, era rápido, forte e preciso. Helena defendeu o primeiro soco, lhe dando um tapa na mão, forçando o homem a desviar, expondo as costas. A joelhada, cruel, atin
Maria não estava em lugar algum da casa. Johnson percebia o outro celular sobre a mesa da cozinha. Seus ossos congelaram, se Maria tivesse acessado aquelas informações, podia esquecer o casamento. Tentou ligar para ela, mas a única resposta era uma caixa postal. Foi até a base. Howard o atendia, logo cedo.— Bom dia. A subtenente Bacon está, capitão? - Johnson estava fardado, aterrorizante como sempre. — Investigação, Major? - Bruce provocava.— Assunto sigiloso, Capitão. Lamento. - Ele se esquivava. — Nesse caso, sugiro que a convoque. Tenha um bom dia, Major. - Howard encostava a posta, quando sentiu que ela travou. — Capitão, por favor. É urgente e importante. - Johnson insistia. Viu Maria pela fresta da porta, seminua, de babydoll, cabelos em um coque desajeitado e o olhar odioso para ele. "Ela sabe." Ele certificou em sua mente. A latina virou o rosto e foi para a cozinha, sem dizer nada. - Que tipo de relação existe entre vocês? — É investigação? - Bruce insistia. — Não, ma
DESERTO DE CHIHUAHUA — Una migra! Una migra! Una migra! Mira! - O coiote apontou para um ponto, no alto da colina, sobre o rochedo, sozinho, com uma arma de grosso calibre no colo. Dario Garcia estreitou os olhos, a figura estava parada no alto da rocha, inerte. Não parecia fazer mira ou algo assim, aliás, sequer parecia viva. Ele tratou de instruir os coiotes que trabalhavam para ele e seguiu, perpendicular, em direção à figura agourenta sobre o rochedo. Aproximou-se, devagar, passo após passo, esquivando-se, entre a rala vegetação rasteira do deserto, em seu paramento militar da cor da areia. "Uma migra, sozinha, mulher?" Ele identificava a silhueta da policial. Dario julgava: ou ela tinha se perdido ou estavam em solo estadunidense. Qualquer hipótese era problemática. Conforme se aproximava, o contrabandista percebia as nuances. Filetes de sangue seco partiam do nariz; a boca rachada, a pele exposta. Se estivesse viva, aquela criatura miserável, em pesado paramento militar,
Dario passou horas observando sua paciente. Trocou a bolsa de soro e umedeceu seus lábios com o algodão molhado. Ela era bonita para uma militar, admirava-se do motivo de alguém, como ela, ter virado uma. Com o fim da segunda bolsa, ele a rolou e pôs sob o corpo um tapete descartável higiênico, para cães, para o caso de ainda estar inconsciente quando todo aquele líquido resolvesse sair. Adormeceu, com a pistola em punho, pronto para matá-la, se fosse necessário. Helena sentia a dor excruciante lhe roer a alma, forçando-a a perceber-se. Algo lhe tampava os olhos, estava viva e aquilo bastava naquele instante. A cabeça doía um inferno e os olhos, mesmo fechados, ardiam. A boca e a garganta secos, algo lhe feria o braço, dolorosamente. Ela gemeu, baixinho. Dario despertou. A mulher respirava, ofegante, inquieta. Se não estivesse desperta, logo acordaria. — Me ouve? Me entende? - Ele perguntou, em espanhol, percebia o gesto de cabeça dela, confirmando. Estava desperta. - Qual seu
Algo naquele lugar escuro, no Deserto de Chihuahua cheirava bem. Helena gostava do aroma. Dario a servia de um caldo de legumes, batido e leve. Guiou as mãos dela até a borda da tigela e da colher, mas ela não tinha firmeza nas mãos, tremia muito, ainda sem forças. — Me permita ajudá-la, senhora. - Dario tomava a frente, alimentando-a, colher por colher. Ela se fartou com pouco, o estômago cheio. - Amanhã, vamos partir e levar você até a fronteira. - Ele anunciou, precisava resolver aquela militar antes que ela identificasse o caminho. - Não se preocupe, você estará em casa, com sua criança, antes do anoitecer. — Não tenho uma criança, amigo. - Ela respondeu, curtamente.— Mas tem uma cicatriz no ventre. - Ele seguiu, aplicando o gel sobre a queimadura e o colírio nos bonitos olhos daquela mulher. — Oh! Isso. - Ela piscou os olhos, já não ardiam mais e nem sentia tanta dor. O ferimento no braço era o mais incômodo. Dario limpou o ferimento, cobrindo-o com gaze. — Não precisa falar