Simon Duarte
Voltar à Recife foi como abrir uma ferida que nunca cicatrizou. Eu sabia que seria doloroso, mas não imaginava que o ar da cidade pudesse pesar tanto nos meus pulmões. Assim que desci do avião, senti o calor úmido grudando na pele, e com ele, vieram as lembranças. Cada passo que eu dava parecia me puxar para trás, para um tempo em que eu ainda acreditava que o amor bastava.
No táxi, olhei pela janela e vi os lugares que um dia foram nossos. A praça onde ele me esperava com café na mão. A livraria onde compramos aquele livro de poemas que ele nunca terminou de ler. O café onde ele me disse, pela primeira vez, que eu o fazia se sentir inteiro. Tudo estava lá. Intacto. Como se zombasse de mim.
O motorista tentou puxar conversa, mas eu não tinha voz. Só pensamentos. E eles giravam em torno de uma única coisa: o e-mail.
“Eu preciso te ver. Porque aquela noite... nunca saiu de mim.”
Eu li aquela mensagem tantas vezes que já sabia de cor. Mas não conseguia confiar nela. Não