Era um claro pedido para que fosse embora, como Bruno não perceberia isso?
Mesmo assim, ele não insistiu, apenas vestiu a mesma roupa com que chegou e, ao sair, ainda falou gentilmente:
— Vou indo, descanse bem.
Helena permaneceu de pé até ouvir o som da porta se fechando.
Só então, mecanicamente, tirou o robe e ficou diante do espelho, observando as marcas de uma noite de intimidade forçada.
Por causa de Manuel, Bruno havia sido especialmente rude, como se quisesse marcar seu território no corpo dela.
Helena tomou outro banho e esfregou a pele com sabonete líquido três vezes. O vestido marrom de seda, impregnado com o cheiro de Bruno, ela jogou no lixo.
Às três da manhã, ela subiu até a cobertura do prédio. Ficou ali, em silêncio, observando a cidade adormecer, saboreando a solidão.
Anos atrás, Bruno havia a transformado na Sra. Lima. Seu mundo passou a girar apenas ao redor dele.
Agora, depois de tanto tempo, ele a tomava novamente como “sua”, mais uma vez esvaziando o universo dela.