O Livro de Nós Três
A decisão de transformar o caderno azul em um livro não surgiu como um plano.
Nasceu como semente, no espaço entre uma dor muscular e um abraço de Brenda.
Nasceu da repetição dos dias, do toque de Clara nos meus ombros cansados, do som do lápis riscando papel durante as noites de insônia.
Nasceu de mim. Finalmente.
Mas para escrever sobre recomeços, eu precisava me movimentar.
Precisava do corpo.
Precisava provar para mim mesmo que não seria apenas a voz de uma história, mas sua ação também.
E foi assim que, entre as folhas escritas e os sorrisos de Clara, comecei a lutar.
O fisioterapeuta agora vem três vezes por semana.
É jovem, objetivo, exigente. Me faz andar entre cones, treinar equilíbrio com olhos fechados, subir degraus improvisados no jardim.
Clara observa de longe, sempre com o olhar atento, sempre com uma garrafinha de água na mão e um pano para enxugar meu suor.
— Mais uma vez, Miguel. Devagar. Postura ereta.
Um passo por vez. Diz Júlio, com fi