Dimitri Carter O meu coração disparado, as mãos suadas, a mente girando entre mil pensamentos e possibilidades. Eu sabia. Sabia que era hoje. Que eles haviam chegado.Mas a confirmação veio como um soco no estômago quando vi os seguranças postados na entrada da ala onde Isabella estava. Tentei passar direto, mas fui barrado imediatamente.— Senhor, não pode entrar sem autorização.— Sou o pai. — minha voz saiu firme, embora carregada de ansiedade. — Os filhos... meus filhos nasceram hoje.Eles se entreolharam, indecisos, até que uma terceira presença surgiu no corredor. O pai dela.Ele caminhou em minha direção com a mesma expressão que sempre carregava,dura, atenta, mas naquele momento, havia algo mais em seu olhar. Algo que eu não esperava: respeito.— Pode deixar ele entrar — disse, sem me encarar diretamente. — Eles estão te esperando, Dimitri.Não hesitei. Apenas agradeci com um aceno e passei pela porta como se estivesse entrando num novo mundo.E, de certa forma, estava.O qu
Dimitri Carter O corredor da UTI neonatal é um universo suspenso, luzes suaves, monitores que pipocam como estrelas distantes, vozes sempre em um tom abaixo do mundo real. Há dois dias vivo aqui dentro, vendo cada minuto esticar‑se e encolher em compassos irregulares; tudo depende da respiração dela. Minha filha. Parei diante da incubadora como quem chega a um lugar sereno. Por trás do acrílico, o corpo minúsculo se agitava em sonhos que eu não conseguia alcançar. Tubos, sensores, a luz azul do fototerápico… cada fio traduzia a delicadeza que eu não fora capaz de proteger. —Respira, Dimitri—repeti baixinho. Palavras vazias, mas era o que eu tinha. — Você já conversou com ela hoje? —A voz às minhas costas era suave, musical. Virei‑me. A enfermeira trazia no crachá o nome Mônica. Olhos cor de mel e aquela expressão de quem parece ter coragem. — Falei um pouco — murmurei. — Mas sempre parece insuficiente. Mônica sorriu, aproximando‑se da incubadora. Ajeitou delicadamente um sens
Dimitri Carter Três meses se passaram entre o primeiro contato pele a pele e este momento em que o elevador do prédio, lento como sempre, anuncia o térreo com um ding abafado. Tenho Bella aconchegada num canguru, pequenina, mas já absurdamente maior do que aquela versão iluminada de fios e sensores. E à minha esquerda, carregando duas mochilas, um estetoscópio pendurado no pescoço, está Mônica.O corredor do edifício parece mais longo do que recordo. Talvez porque, pela primeira vez, vou atravessá‑lo como pai em tempo integral, sem beeps de saturação ditando o compasso. Ainda estranho o silêncio que substituiu a sinfonia eletrônica da UTI.— Respira, Dimitri — lembra Mônica, divertida, devolvendo‑me as próprias palavras de meses atrás.Obedeço. Inspiro fundo o cheiro do perfume suave de lavanda vindo do gorro de Bella. O som do meu coração já não encontra rivais mecânicos, ecoa livre, feito bumbo de escola de samba na avenida.A porta se abre para um ambiente transformado. Enquanto
Isabella Duarte RicciEu não conseguia dormir. Fiquei na poltrona do quarto dos meus meninos, o telefone aceso como um farol, relendo cada palavra que Dimitri enviou. A saudade nadava em mim havia meses, mas só agora percebo o quanto me afoguei tentando fingir que estava tudo bem. Ele escreveu lar e alguma coisa dentro do meu 2 peito estalou , porque era essa a minha falta: um lugar onde o amor não precisasse pedir licença.Às quatro da manhã, decidi, eu ainda estava insegura, mas não voltaria atrás. Beijei cada bochecha macia dos meus bebês, deixei leite materno na geladeira, dei um sorriso inseguro para a babá de plantão:— Volto o mais breve possível.Pego a chave que ainda guardo desde o tempo em que nós havíamos nos divorciado. A cidade está úmida, cheirando a madrugada e jasmim, quando estaciono diante do edifício. O elevador sobe lento, cada número acendendo como batidas ansiosas.A porta do apartamento se abre, após eu virar a maçaneta, sem ranger. Eu sussurro:— Dimitri?
Isabella Duarte Ricci Desperto com o peso confortável de um braço em torno da minha cintura e o som suave da respiração de Dimitri atrás de mim, constante, confiável como eu precisava que fosse. O peito se aquece; não de euforia, mas de uma serenidade nova. Solto-me devagar, visto a camisa dele que encontrei no tapete e caminho até o bercinho da Bella, que dorme enroscada num casulo de algodão, lábios entreabertos, expressão de quem confia no mundo. Penso nos meninos, na mansão ainda adormecida, e num futuro em que não precisaremos dividir lares.Ouço passos hesitantes. Viro-me: Dimitri está atrás de mim, me abraça e eu olho para o cabelo bagunçado dele.— Achei que você... — ele começa, mas a voz falha.— Shh. Vem cá — peço.Ele se aproxima; seguro suas mãos. Sinto um leve tremor.— Fiquei com medo de que não estivesse aqui, e tudo tivesse sido apenas um sonho.— Vou te dar uma chance, Dimitri. Uma. Vejo os ombros dele cederem num suspiro entre alívio e responsabilidade.— Mas voc
Dimitri Carter — Você não sabe o que está fazendo. — ela me olha com um olhar gelado, tentando se manter forte. — Isso não vai acabar bem. Eu não vou ser sua prisioneira.— as palavras dela são frias como gelo. —Nem você, nem ninguém, vai me controlar assim.É certo que você foi meu primeiro amor e, agora, é o pai dos meus filhos que estão para nascer, mas eu não consigo te amar, não consigo mais sentir aquele desejo e não tenho mais forças para jogos ou seja lá o que for que você agora esteja planejando. O primeiro amor verdadeiro que tive, a dor de perda constante que ainda me assombra. Perdi meu primogênito, a parte mais pura de mim, e a dor de vê-lo partir me dilacerou por dentro de uma forma que eu nunca imaginei ser possível. E Isabella. Ela se tornou o único amor verdadeiro que meu coração aceitou após perder minha primeira esposa e filho, a mulher que eu nunca consegui deixar ir, e que, por mais que eu tenha tentado. Eu lutei para negar meus sentimentos a Isabella, lut
Isabella Duarte Ricci Eu não sabia onde isso ia dar. Eu não sabia se algum dia abriria mais do que essa janela para Tomas. Mas, por agora, saber que ele estava ali era o suficiente. O suficiente para me fazer sentir, pela primeira vez em muito tempo, que na verdade houvesse um caminho de volta para mim. Tomas não soltou minha mão. Ele ficou ali, olhando para mim como se tentasse decifrar cada parte do que eu não dizia, do que eu não conseguia admitir nem para mim mesma. O vento frio da noite pareceu me despertar um pouco da névoa de sensações que aquele beijo havia deixado para trás. Eu deveria dizer algo, me afastar, colocar uma barreira entre nós. Mas a verdade era que eu não queria. Pela primeira vez em anos, eu não queria fugir. — Quer dar uma volta? — Ele perguntou, puxando-me levemente pela mão. Eu hesitei. O hospital ainda estava às minhas costas, e o peso do passado tentava me puxar de volta. Mas Tomas era calor, era presença. E naquele momento, eu precisava disso mais
Isabella Duarte Ricci O silêncio pairava na sala depois que Tomas saiu. Meus pais ainda estavam tensos, e eu sabia que não escaparia de uma conversa mais profunda. — Isabella, você está namorando o doutor Tomas? — minha mãe perguntou, cruzando os braços e me analisando com atenção. Suspirei e passei a mão pelos cabelos úmidos de suor e tensão. — Nós estamos nos conhecendo — respondi, tentando soar casual. Meu pai bufou, claramente insatisfeito com a resposta. — Um obstetra, Isabella? Você acha que ele é capaz de te proteger?Não acha um pouco irônico? Namorar um homem que salva vidas enquanto você destrói outras, ele sabe que é uma mafiosa? — Lorenzo retrucou, ainda frustrado. — Pai, o Tomas me salvou esta noite. Isso já não é prova suficiente de que ele se importa comigo? — Cruzei os braços, mantendo o olhar firme no dele. Minha mãe tocou o braço do meu pai, tentando acalmá-lo. — O que importa é que nossa filha está bem — ela disse, em um tom mais suave. — Vamos dar