Meu marido tinha uma amiga de infância que foi diagnosticada com uma doença terminal. Para poupá-la de partir com arrependimentos e pudesse sentir o verdadeiro amor de uma família, meu marido, Marcelo, deu a ela o meu colar, e deixou que ela ficasse com o meu aniversário. Até o nosso filho passou a chamá-la de mamãe. — Estrela, a Regina está à beira da morte. Por favor, ceda para ela. — Ele disse. Sempre que eu tentava pedir para que ele dividisse um pouco mais do seu tempo e atenção comigo, meu filho, Henrique, se adiantava para defendê-lo e também à Regina: — Mamãe, você sempre me ensinou a ser generoso. A tia Regina está morrendo. Por que você insiste em implicar com ela? Com o tempo, parei de pedir qualquer coisa. Até que, numa noite, ouvi meu filho, voltando do hospital, dizer para o pai: — A tia Regina é tão gentil e elegante! Queria que a mamãe fosse como ela. — Sua mãe é um pouco rigorosa, mas é para o seu bem. — Marcelo sorriu, acariciando os cabelos do filho. — Já que você gosta tanto da tia Regina, que tal ela ser sua madrinha? Descobri, então, que nem mesmo o filho que gerei com tanto esforço no meu próprio ventre gostava de mim. Baixei os olhos, fechei a porta do quarto em silêncio, e fingi que nada tinha acontecido. Se pai e filho detestavam tanto a minha presença e queriam tanto ficar longe de mim, eu iria embora em silêncio, e realizaria o desejo de ambos.
Leer másO rosto de Marcelo ficou instantaneamente pálido.— Quem é essa? — Henrique ficou agitado e avançou, tentando puxar minha filha para fora. — Você viu direito? Tem certeza do que está fazendo chamando outra pessoa de sua mãe? Essa é minha mãe!— Mamãe, quem são esses? — Minha filha imediatamente se jogou no meu colo, abraçou meu pescoço forte e gritou.Eu rapidamente afastei a mão de Henrique, acalmando minha filha com voz suave, sem perceber que Henrique, ao ser afastado, perdeu o equilíbrio e caiu no chão.— Não tenha medo, querida. São pessoas que a mamãe conhece. — Respondi,— Olá. — Minha filha respondeu, com uma voz meiga.Henrique ficou sentado no chão, olhando para mim pacientemente acalmando minha filha, seus olhos ficaram vermelhos de raiva.— Mamãe, você me empurrou por causa de outra criança! Antes, você só tinha olhos para mim. É tudo culpa sua! — Ele apontou para minha filha, tremendo por todo corpo. — Sua ladra, como se atreve a roubar minha mãe?Franzi a testa, protegend
Enquanto eu pensava, Marcelo avançou e me puxou para um abraço.— Estrela, você voltou! Eu sabia que você sentiria saudades de mim e do Henrique! Que bom que você voltou, agora nossa família vai ficar bem.Antes que ele terminasse, eu o empurrei friamente.— Sr. Marcelo, você está enganado. Eu sou a psicóloga responsável pelo caso do seu filho. Nossa relação é apenas entre médica e família do paciente. — Disse.— Meu filho? — Os olhos de Marcelo revelaram o mesmo desespero do Henrique. Ele me olhou destruído, os olhos completamente vermelhos. — Estrela, você desistiu até do nosso filho? Eu sempre disse a ele que, quando você se acalmasse, voltaria. Que tudo ficaria bem e voltaria ao normal com você aqui.Fiquei surpresa e olhei para Henrique. Como esperado, o humor dele piorou visivelmente com a chegada do pai e nossa conversa.Franzi a testa e puxei Marcelo para fora da sala, com firmeza.— Viu? Você ainda se importa comigo e com ele. Você quer curá-lo, e ainda se importa conosco, não
E, naquele exato momento, eu já estava em um novo país, recomeçando minha vida.Antes de engravidar, eu estudava psicologia educacional. Ao chegar nesse novo habitat, escolhi retomar os estudos que eu tinha abandonado por causa da família.Só de estar no campus eu senti de verdade que havia voltado cinco anos no tempo. Naquela época, eu ainda não conhecia o chefe da máfia, Marcelo. Também não tinha dado à luz Henrique. Eu só amava a mim mesma, tinha ótimas notas e podia fazer tudo que quisesse.Nesse ambiente livre e maravilhoso, aos poucos esqueci o passado e me tornei uma psicóloga infantil. Ganhei uma nova família. Um marido que me ama e uma filha de três anos.Eu achava que finalmente já tinha me despedido completamente do passado. Mas, cinco anos depois, reencontrei pai e filho da família Cardoso.Convidada por um colega para lidar com um caso complicado, voltei à cidade que antes conhecia tão bem. Tudo parecia igual, mas ao mesmo tempo totalmente diferente.Não fiquei parada e fu
No entanto, o pequeno Henrique não conseguia entender a verdadeira situação. Ao ouvir que eu não o abandonei, ele soltou um choro assustado e começou a chorar desesperadamente.— Não! Cadê a mamãe? Eu quero a mamãe! — Gritava, soluçando.O choro dele deixou Marcelo, já triste, ainda mais confuso e aflito. Normalmente, ele só brincava com o filho e nunca cuidou dele por um dia sequer. Então, ele ficou segurando o menino até que ele cansasse de chorar e adormecesse em seus braços. Mas, no meio da noite, Henrique acordou de repente, chorando e chamando a mamãe.— Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem. Sua mãe vai voltar, ela ama a gente, com certeza ela vai voltar. — Marcelo o abraçou forte, acariciando as costas para acalmá-lo.Mas Henrique não quis ouvir uma palavra.— Eu quero a mamãe! Eu quero a mamãe! — As lágrimas escorriam pelo rosto, e ele não parava de chorar.Vendo seu filho, normalmente tão esperto e sensato, se transformar num monstrinho que só chorava, não comia e não dormia
Marcelo acompanhou Regina no hospital por um dia e uma noite e só voltou para casa naquela mesma noite. No começo, ele não percebeu que eu tinha ido embora. Quando abriu a porta e viu Henrique agachado, jogando videogame enquanto devorava um sorvete, e ficou apenas um pouco surpreso. Afinal, eu sempre me preocupei que Henrique pudesse sentir dor de barriga, e jamais o deixaria comer sorvete no jantar.— Rique, onde está a mamãe? — Perguntou.— Acho que saiu. — Respondeu Henrique, fixado na tela do jogo, sem nem olhar para trás.Seria tão melhor se a mamãe o ignorasse todos os dias daquele jeito. Afinal, nem o papai nem a madrinha eram tão chatos como a mamãe.Mas Marcelo franziu a testa.— Estrela raramente deixa a criança de lado assim. — Murmurou baixinho. — Deve ser porque ando passando muito tempo com a Regina, ela deve estar com ciúmes, zangada.Marcelo sorriu sem jeito, prestes a pegar o celular para me ligar. Mas seu olhar foi atraído pelo cartão preto na mesa. Era o cartão sup
No dia seguinte, às dez da manhã, era o meu voo de partida.Marcelo, como de costume, acompanhou Regina no hospital, e passou a noite fora.De manhã, arrastei a mala já organizada, e me preparei para partir.Ao passar pelo quarto do Henrique, meus passos involuntariamente hesitaram.Henrique teve um parto prematuro inesperado. Por isso, sempre foi frágil e ficava doente facilmente desde pequeno. Para garantir que ele tivesse os melhores cuidados e companhia, eu mesma organizava e cuidava de toda a sua rotina diária, nunca contratei empregadas ou babás.Após o breve momento de hesitação, larguei a mala e decidi dar uma última olhada nele antes de partir.Henrique não só parecia com o pai, como também tinha o mesmo temperamento frio.Quando me viu entrar no quarto, ele levantou a cabeça da mesa e me chamou de "mamãe", voltando logo em seguida a desenhar.Olhei para o rosto dele que parecia muito com o do Marcelo.— Rique, a mamãe vai embora. Você precisa cuidar bem de si mesmo. — Disse b
Último capítulo