No dia seguinte, às dez da manhã, era o meu voo de partida.
Marcelo, como de costume, acompanhou Regina no hospital, e passou a noite fora.
De manhã, arrastei a mala já organizada, e me preparei para partir.
Ao passar pelo quarto do Henrique, meus passos involuntariamente hesitaram.
Henrique teve um parto prematuro inesperado. Por isso, sempre foi frágil e ficava doente facilmente desde pequeno. Para garantir que ele tivesse os melhores cuidados e companhia, eu mesma organizava e cuidava de toda a sua rotina diária, nunca contratei empregadas ou babás.
Após o breve momento de hesitação, larguei a mala e decidi dar uma última olhada nele antes de partir.
Henrique não só parecia com o pai, como também tinha o mesmo temperamento frio.
Quando me viu entrar no quarto, ele levantou a cabeça da mesa e me chamou de "mamãe", voltando logo em seguida a desenhar.
Olhei para o rosto dele que parecia muito com o do Marcelo.
— Rique, a mamãe vai embora. Você precisa cuidar bem de si mesmo. — Disse baixinho.
— Oh. — Respondeu desinteressado, concentrado no desenho, nem levantou a cabeça.
Virei um pouco o rosto e vi que ele desenhava a cena do parque onde Regina e Marcelo o tinham levado no dia anterior.
Meu coração apertou, como se algo o agarrasse.
Regina tinha postado um vídeo no Instagram. No vídeo, Henrique sorria feliz, comendo algodão doce no colo dela, falando de forma confusa:
— Eu adoro ficar com a madrinha. Posso comer o que eu quiser, e assistir televisão até tarde. Ao contrário da mamãe, que fica controlando tudo. Sempre me mandando dormir cedo e comer frutas e vegetais!
— Então, Rique, quem é melhor, a mamãe ou a madrinha? — Regina riu satisfeita e perguntou.
— Claro que a madrinha! Se minha mãe fosse metade do que a madrinha é, eu ficaria muito feliz.
Por comparar com a minha rigidez, Henrique, com apenas cinco anos, claramente preferia a indulgência, o mimo e a ausência de regras que Regina dava a ele.
Eu achava que, sob meus cuidados, Henrique não ficaria mais doente como antes, o que seria ótimo. Mas não imaginei que isso nos afastaria cada vez mais.
Olhei para ele desenhando Regina com tanta atenção e pressionei os olhos que ardiam como fogo.
— Mamãe. — Henrique de repente me chamou, no momento em que eu saía.
Virei-me para olhar para ele.
— A mamãe me disse que tudo o que eu gosto, a mamãe também gosta. Eu gosto muito da madrinha, então a mamãe também gosta dela, não é? — Ele disse olhando nos meus olhos, com uma expressão séria.
Fiquei levemente surpresa. O último resquício de esperança e expectativa no meu coração desapareceu completamente. Fechei os olhos, silenciosamente enxuguei as lágrimas que ninguém viu e sorri levemente.
— Você sempre quis acompanhar e proteger a sua madrinha, não é? A partir de hoje, você e seu pai vão poder protegê-la para sempre. — Respondi.
Depois disso, ignorei sua expressão confusa, sem tentar entender se ele havia compreendido. Virei, peguei minha mala e saí da mansão sem olhar para trás, a caminho do aeroporto.
Antes de embarcar para um país desconhecido, joguei meu celular na lixeira da sala de embarque, descartando todas as lembranças que tinha deles, pai e filho.
No instante em que o avião decolou, eu me senti livre.