Depois que Henrique subiu, a casa ficou em silêncio.
— Estrela, não fica brava. — Marcelo foi o primeiro a falar, quebrando o silêncio. — Eu não esqueci do seu aniversário. Faz tempo que preparei o seu presente. Consegui recuperar o colar que você preza tanto.
Era o colar que minha mãe me deixou quando faleceu. Sempre o guardei com carinho, como um tesouro. Mas, no dia em que dei à luz ao Henrique, ele foi roubado por um ladrão.
Naquele dia, Marcelo segurou a minha mão pálida e fraca, beijou com carinho os meus cabelos encharcados de suor e me prometeu que encontraria o colar.
De fato, ele encontrou. Mas, no dia anterior, eu vi o colar pendurado no pescoço de Regina, numa foto que ela postou no Instagram.
Mordi levemente os lábios, sem responder. Ao ver minha expressão, Marcelo provavelmente adivinhou que eu já sabia que ele tinha dado o colar para Regina.
Seu rosto não demonstrou nenhum constrangimento, apenas um olhar mais sombrio.
— Eu só emprestei o colar para a Regina. — Ele franziu levemente a testa, um tanto irritado. — Ela vai usar por um tempo e depois vai te devolver.
Não disse nada, apenas assenti.
De qualquer forma, eu estava indo embora. Se ela fosse devolver ou não, já não importava.
Ao perceber que eu não o questionei como antes, Marcelo suspirou aliviado. Relaxou, e segurou minha mão.
— Ela vai usar no máximo por seis meses. Eu sabia que você entenderia e seria compreensiva. — Ele explicou suavemente.
Eu já estava acostumada a aceitar esses resultados.
Regina disse que queria sentir o carinho de uma família, ele largou os assuntos da máfia e levou nosso filho para fazer companhia a ela.
Regina disse que queria passear, ele pegou a viagem em família que planejei por mais de seis meses e a levou no meu lugar.
Regina disse que queria comemorar a alta do hospital, ele deixou de lado o meu aniversário para presenteá-la.
Regina disse que queria meu colar, e então fingi que ele era roubado para sempre e Marcelo nunca o encontrou.
— Hum. Deixa ela usar. — Respondi.
Fingi tossir, afastei minha mão e mantive a expressão neutra, com um olhar calmo como quem já perdeu todas as esperanças.
Minha resposta dócil e submissa fez Marcelo hesitar. Um traço de culpa passou pelo seu rosto.
— Fica tranquila, eu prometo que ela vai devolver. — O tom de voz dele ficou mais suave. — Enquanto isso, você pode escolher outro mais caro. Eu compro para você.
Sem responder, peguei os papéis de divórcio que estavam sob a caixa do bolo e entreguei para ele.
— Não importa mais. Marcelo, pode assinar aqui?
— Que documento é esse? — Ele pegou automaticamente, sem abrir, e perguntou.
— É o div... — Antes que eu terminasse de falar, o telefone dele tocou. Era o médico do hospital.
— Por favor, é a família da paciente Regina Moraes? Ela desmaiou repentinamente na rua e foi trazida para o hospital.
— Estou indo agora. — Marcelo respondeu rapidamente franzido a sobrancelha.
Eu continuei olhando fixamente para o documento na mão dele, sem dizer nada.
Após desligar, Marcelo tirou a caneta do bolso e assinou o papel de forma descuidada, entregando-me de volta antes de se levantar para ir embora.
No instante em que ele se virou, o chamei:
— Marcelo, não quer dar uma olhada no documento?
— Vejo depois. A Regina deve estar assustada sozinha no hospital. Preciso ir agora. — Ele acenou como de costume. — Não sei que horas volto. Pode dormir cedo e não precisa me esperar voltar.
Sem olhar para trás, saiu apressado, sem sequer me lançar mais um olhar.
Fiquei observando ele partir, lembrando das inúmeras madrugadas em que ele correu para o lado da Regina sempre que ela ligava alegando alguma emergência. E de como eu ficava sentada no sofá, de olhos abertos, esperando por ele até o amanhecer.
Sorri amargamente.
Pois é, Marcelo.
Eu realmente não vou mais esperar você voltar.