Capítulo 35
A vida tem um jeito estranho de seguir em frente mesmo quando a gente está parado. O Rio parecia pulsar em um ritmo próprio, mais apressado que os passos do interior, mais ruidoso que os silêncios de Miguel. E mesmo assim, era aqui que eu estava. Respirando, vivendo, tentando não olhar tanto para trás.Já fazia mais de duas semanas desde que deixei Ouro Preto. Mais de duas semanas desde que encostei a mão na madeira do casarão pela última vez, ou que ouvi a voz de Miguel de perto. A comunicação se resumia a e-mails curtos e diretos, quase sempre sobre o andamento da obra, com algum anexo técnico e sem nenhum "como você está?".Eu respondia com a mesma neutralidade. Porque, por mais que doesse, era o que eu conseguia oferecer.Num sábado cinza, fui visitar uma galeria pequena em Santa Teresa, onde acontecia uma mostra sobre artistas mineiros e suas releituras de arquitetura barroca. A curadora havia me convidado como uma possível futura