Capítulo 34
A liberdade tem um gosto agridoce. Por anos, sonhei com ela. Estar longe do passado, longe da lembrança de André, longe de tudo o que me acorrentava sem que eu percebesse. Depois, fui me prendendo aos poucos ao que achava que me fazia bem. Miguel. O silêncio do interior. A casa antiga que me acolheu como abrigo. Mas agora, aqui, no meio dessa cidade viva e caótica, percebo que a liberdade também é um susto. Não é só o vento batendo no rosto. É o eco do próprio silêncio. É não ter alguém esperando na cozinha. É abrir a porta e não ouvir passos. É não ter desculpa para fugir de si mesma. Ainda assim, pela primeira vez em muito tempo, sinto que sou eu quem está segurando as rédeas da minha vida. Na segunda-feira, cheguei cedo demais no prédio da restauração. O sol ainda se espreguiçava por trás dos edifícios e o ar tinha aquele cheiro úmido de cidade que acorda devagar. Coloquei as luvas, amarrei o cabelo, e c