CAPÍTULO 9
Eu sempre achei que silêncio fosse ausência. Que fosse vazio. Mas, depois de semanas dividindo pequenos espaços e grandes pausas com Miguel, aprendi que o silêncio também pode ser presença. Uma presença tão intensa que, às vezes, dava até vontade de pedir licença para respirar.
Naquela manhã, a casa estava mais fria do que o habitual. A neblina cobria o vilarejo como um cobertor grosso, e o cheiro de café passado se espalhava pela pequena cozinha da casa dos fundos. Ainda era cedo, mas eu já estava acordada. Nunca mais consegui dormir direito depois do dia em que ele contou sobre a esposa.
Às vezes, as memórias dele invadiam os meus sonhos. Um carro em velocidade, uma estrada molhada, um telefonema que não devia ter sido atendido. E, mesmo que Miguel nunca tenha contado os detalhes, meu coração os completava sozinho. Porque tristeza reconhece tristeza, mesmo em silêncio.
Ele apareceu à porta com um casaco grosso e uma pasta de projetos embaixo do braço.
— Achei que você ia