CAPÍTULO 10

Miguel estava demorando a voltar do centro da cidade. E, embora eu não quisesse admitir, aquela demora começava a me deixar inquieta.

A chuva que começara leve pela manhã agora castigava o vilarejo com um vigor que fazia as telhas do casarão tremerem. As goteiras haviam retornado em cantos esquecidos, e o cheiro de madeira úmida se espalhava como um fantasma antigo que nunca queria partir.

Caminhei pela sala principal do casarão, passando a mão pelas paredes descascadas com um cuidado quase reverente. Ao longo das últimas semanas, aquele lugar tinha deixado de ser apenas um trabalho. Havia se tornado um abrigo. Um reflexo. E, de algum modo estranho, também era o espelho de tudo o que eu vinha tentando reconstruir dentro de mim.

Sentei na escada de madeira que levava ao antigo sótão. Ali, a luz da tarde filtrava-se pelas frestas do telhado, desenhando linhas douradas que tremeluziam com o movimento das árvores lá fora. Respirei fundo. Fechei os olhos.

Minha mente, trai