(Eduardo Duarte Galvão)
Nunca tive tanta dificuldade em controlar meu próprio olhar quanto naquela noite.
Quando a vi entrar no salão, por um segundo esqueci de respirar. Lua não caminhava, ela flutuava. O vestido negro, colado nas curvas certas e solto onde devia, fazia parecer que ela não pertencia àquele mundo comum de boletos e preocupações. E, ao mesmo tempo, era justamente isso que a tornava única: ela não tinha ideia do efeito devastador que causava.
Minha intenção, desde o início, fora testá-la. Queria ver se teria coragem, se enfrentaria seus próprios medos para estar aqui. E ela veio. Hesitante, nervosa, mas veio.
Eu deveria manter o foco. Controlar as palavras, ser racional. Mas quando Lua ergueu os olhos para mim, com aquele misto de desafio e vulnerabilidade, senti o chão fugir por um instante.
Ela parou diante da mesa, braços cruzados como um escudo.
— Você me enganou — disse, com firmeza, mesmo que sua voz denunciasse o nervosismo.
Mantive o sorriso discreto, estudado.