Lorena
Acordei cedo naquele domingo. O sol nem tinha dado as caras direito, mas eu já tava de pé, com o corpo em movimento e o coração travado. Café no fogo, chinelo arrastando pela casa, e aquele silêncio… Um silêncio que, pra quem vê de fora, podia até parecer paz. Mas quem mora dentro de mim sabe: era só ausência barulhenta.
Tudo aqui carregava o nome dele. A caneca lascada no armário. A toalha que nunca voltei a lavar. O perfume dele que ainda brigava com o tempo pra ficar preso no lençol. E eu, no meio disso tudo, fingia.
Fingir virou meu talento preferido.
Fingir que tava bem.
Fingir que o peito não doía.
Fingir que a saudade não fazia ninho na garganta todo dia às 9 da manhã.
Depois do café, fui dar aula de reforço pras crianças da vila. Elas, com aquele jeitinho puro, são as únicas que ainda me arrancam um pedaço de sorriso de verdade.
A Jéssica veio com o caderno colorido na mão, cheia de brilho no olhar.
— Fiz um desenho, tia. É você… e o seu amor.
Era a gente.
Ela me desenh