Kaique
Com o tempo, o silêncio virou rotina. Mas não era aquele silêncio tranquilo, de paz conquistada. Era um silêncio sufocado, pesado, tipo tiro que não acerta, mas passa raspando e deixa o susto preso no peito.
A ausência da Lorena... mano, ela virou tipo uma dor crônica. Não doía o tempo inteiro como antes, mas quando doía, era tipo pontada na alma. Latejava. Igual machucado mal cicatrizado. Eu podia até andar ereto, peito estufado, dedo no gatilho. Mas por dentro? Por dentro eu tava um caco.
Ela era minha calmaria no meio do caos, tá ligado? E sem ela, o bagulho ficou ainda mais insano. A favela seguia meu comando, o baile só rolava se eu deixasse, geral me cumprimentava com respeito — ou medo. Mas o que eles não sabiam era que, quando eu fechava a porta do barraco, o peso daquela porra toda caía em cima de mim igual avalanche.
Eu era o chefe, o manda-chuva, o rei do morro. Mas o problema de ser rei… é que todo mundo quer tua coroa. E pior: ninguém quer saber do que tu sente.
Fi