Quatro meses depois do casamento, a cidade amanheceu com cheiro de pão na chapa e terra molhada. O frio das primeiras horas vinha manso, empurrando a neblina pelas ruas de paralelepípedo. Na casa nova — pequena, clara, com janelas largas e vasos de lavanda no beiral — Laís abriu a porta da cozinha e deixou o vento entrar. O chale estendido nas costas desabou como um abraço e, por um momento, ela ficou ali, só ouvindo o mundo despertar.
Eduardo surgiu atrás, descalço, o cabelo desalinhado e a caneca fumegante na mão.
— Café pra minha esposa — disse, num tom leve que ela nunca se cansava de ouvir.
— E planos pro meu marido — respondeu, encostando a testa na dele. — Hoje tem reunião com as turmas da alfabetização, lembra?
— Lembro. E depois passo no galpão pra ver as doações do festival. A cidade tá se superando.
A rotina deles tinha ganhado contornos de ritual: café coado, beijos de bom dia, o corre entre a ONG e a vida a dois, bilhetes deixados na geladeira (“volto às 17h, te busco”) e