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Capítulo 4 – Um Silêncio Barulhento

Laís

O ventilador fazia um barulho monótono no canto do quarto, misturado ao som distante de grilos e cachorros latindo. A cidade dormia cedo — e isso era algo que Laís ainda estava tentando se acostumar. Na capital, o silêncio vinha depois das duas da manhã. Em Santa Amora, antes das dez já havia um tipo de sossego que, para ela, era quase ensurdecedor.

Sentada na cama, de pijama e cabelo preso num coque torto, ela escrevia no caderno que carregava desde o ensino médio. Tinha tentado começar um diário várias vezes na vida, mas só agora aquilo fazia sentido.

“Primeira semana:

Sobrevivi.

Mas não sei se saí ilesa.”

A convivência com Eduardo estava mexendo com ela mais do que queria admitir. Ele não fazia nada — não dizia nada. Mas a presença dele era constante, ocupava espaço, pensamento, pele. E isso era perigoso.

Fechou o caderno e se jogou de costas na cama.

Do andar de baixo, vinha o cheiro do chá de camomila que a tia Zuleica preparava todas as noites. Ela era irmã de sua mãe e morava sozinha desde que ficou viúva. Receber Laís tinha sido uma alegria declarada — “essa casa já estava calada demais”, dizia com um sorriso cheio de rugas e afeto.

— Tá viva aí em cima, menina? — a voz da tia subiu pelas escadas.

— Tô! Já vou descer pra tomar chá.

— Tem biscoitinho de polvilho! Aqueles que você gostava.

Laís sorriu. Aquela casa tinha cheiro de infância e aconchego.

Desceu descalça, tropeçando nos próprios pensamentos. Na cozinha, encontrou também Rafaela — a amiga de infância que agora morava ali perto e aparecia quase todo dia.

— Olha só quem sobreviveu ao furacão Eduardo. — Rafa falou, com uma sobrancelha arqueada e a língua afiada de sempre.

— Ele não é um furacão. — Laís disse, tentando parecer indiferente.

— Não? Você viu o jeito que olhou pra ele na segunda-feira? Achei que ia pegar fogo naquele refeitório da ONG. — Ela riu alto, bebendo o chá como quem assistia a uma novela ao vivo.

Tia Zuleica apenas observava, rindo com os olhos.

— Ele é bonito mesmo — disse a tia, passando mel no pão. — E tem um sorriso meio malandro. Mas cuidado, viu? Os olhos dele têm segredos.

Laís mordeu o biscoito de polvilho com raiva. Dela mesma.

— A gente trabalha junto, só isso. E por enquanto, tá tudo tranquilo.

Mas não estava.

Durante a semana, ela conheceu os outros colegas da ONG:

Leandro, o biólogo calmo que usava camisas floridas e tinha um humor tímido, mas adorável. Já deu pra perceber que ele seria um bom amigo — talvez até estivesse interessado nela, mas Laís não tinha certeza.

E Nanda, a coordenadora, era firme, prática e direta — do tipo que resolve problemas com meia dúzia de palavras e ainda arruma tempo pra acolher os estagiários com bolo de cenoura nas sextas-feiras.

O ambiente era bom. A cidade era tranquila. A casa da tia, um refúgio. Mas nada disso impedia a inquietação que Eduardo causava. Cada vez que os olhos dele encontravam os dela, era como se o passado viesse puxar seu braço e dissesse: “e agora, vai fazer o quê?”

Laís terminou o chá e se despediu das duas, dizendo que ia dormir. No quarto, se enfiou debaixo do lençol fino e ficou encarando o teto.

O celular vibrou.

[23:41 - Eduardo]

“Espero que o chá da sua tia ainda tenha o mesmo gosto. Eu ainda lembro. :)

Foi bom te ver essa semana. Mesmo que em silêncio.

Boa noite, Laís.”

O coração dela deu um salto.

Ela não lembrava de ter mencionado o chá. Ele lembrava sozinho. Da infância. Da casa. Dela.

E aquela última frase…

“Mesmo que em silêncio.”

Laís releu a mensagem umas cinco vezes. Depois apagou a resposta três vezes antes de finalmente digitar:

“É… o gosto ainda é o mesmo.

Silêncios também falam, né?”

Não mandou.

Bloqueou a tela e deixou o celular de lado.

Porque sim — os silêncios falavam. E agora, pareciam gritar.

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