Capítulo 3 – Primeira Semana

Laís

O calor já era impiedoso às oito da manhã quando Laís chegou à ONG Raízes Vivas. Um sobrado simples, com janelas grandes, cartazes coloridos nas paredes e uma recepção cheia de vasos com plantas nativas. Ali, a equipe desenvolvia projetos de educação ambiental e reflorestamento nas escolas da região. Era um lugar acolhedor, mas carregava aquele ritmo frenético de quem tenta salvar o mundo com poucos recursos e muita vontade.

Ela estava nervosa. Primeiro dia de estágio. Nova cidade, novas rotinas, rostos desconhecidos — pelo menos, era o que esperava.

Até que ele apareceu.

Eduardo surgiu no corredor com a camisa social dobrada até os cotovelos, uma mochila nas costas e duas caixas nas mãos cheias de mudas de árvores. A pele suada do sol da manhã brilhava no pescoço, e o cabelo bagunçado só aumentava o efeito perigoso.

Laís congelou.

Não era possível.

— Bom dia, pessoal. — ele falou alto, já entrando com seu jeito casual. — As mudas do viveiro chegaram, deixei mais no carro.

Ela só conseguiu soltar o ar quando uma das coordenadoras respondeu de volta e ele virou, dando de cara com ela.

— Ah… — O sorriso dele veio automático. E indecente. — Olha só quem vai salvar o mundo comigo.

Merda.

Merda, merda, merda.

— Você trabalha aqui? — ela perguntou, tentando controlar o tom.

— Designer da equipe. Faço as artes dos projetos, redes sociais, essas coisas. Cheguei faz uns três meses. — Ele largou a caixa no balcão, ainda sorrindo. — Parece que vamos trabalhar juntos.

Merda vezes mil.

O coração de Laís deu um salto tão alto que ela sentiu no estômago. Ela queria recuar. Ligar para o coordenador da faculdade e pedir transferência. Mas então ele sorriu de novo, daquele jeito leve, que só ele sabia fazer — e tudo dentro dela quis avançar.

A semana começou com agendas compartilhadas, reuniões apertadas e um relatório de impacto que ela teria que escrever com base nos arquivos da equipe. Eduardo foi o responsável por mostrar onde estavam os documentos. Eles passaram boa parte do tempo juntos. E cada minuto era um teste de resistência emocional.

Ele era gentil. Atencioso. Profissional.

O problema era o resto.

O jeito como ele ficava de perfil olhando o computador, os dedos tamborilando na mesa, o cheiro amadeirado que vinha dele quando passavam muito perto. Tudo isso somado à memória do toque rápido na cafeteria, do beijo não resolvido de anos atrás, do corpo que agora parecia ainda mais perigoso.

E Laís, que veio para ter paz, estava em guerra por dentro.

Eduardo

Ele quase deixou a caixa de mudas cair quando viu Laís ali, parada no corredor, com a blusa de linho clara, o cabelo preso de lado e aquele olhar que misturava surpresa e desespero. E depois, fascínio disfarçado.

O destino às vezes era poético. Às vezes, cruel. E às vezes, como agora, era puro deboche.

Desde que soube que a ONG receberia uma nova estagiária, não passou pela cabeça dele que seria ela. A última pessoa que esperava reencontrar — e ao mesmo tempo, a única que nunca esqueceu.

Trabalhar ao lado de Laís era como caminhar sobre vidro fino. Por fora, ele fingia calma. Por dentro, cada gesto dela provocava terremotos silenciosos.

Ela falava com os outros com educação, mas com ele havia uma distância medida — como se qualquer passo em falso pudesse explodir tudo. E talvez pudesse mesmo.

No segundo dia, estavam juntos numa sala minúscula, revisando os materiais antigos para um novo folder. Laís estava lendo uma ficha técnica em voz baixa, sentada ao lado dele, quando se levantou para pegar um papel na bancada — e tropeçou nos próprios pés.

Ela caiu de leve. Contra ele.

Um choque de corpo rápido. Mas real.

O ombro dela colou ao peito dele, e por um segundo, ele segurou sua cintura para evitar que caísse de vez. O corpo dela encaixou no dele como se o mundo tivesse sido feito para esse instante.

Laís se afastou imediatamente, o rosto corado.

— Desculpa. Eu sou estabanada desde sempre. — disse, apressada, tentando rir.

Eduardo não respondeu de imediato. Estava ocupado demais tentando recuperar o ar.

Os olhos dela estavam mais escuros agora. E os dele, cheios de fogo.

Era um toque banal. Mas tudo entre eles estava à beira de deixar de ser banal.

Nos dias seguintes, ele tentava manter o foco. Mas era impossível não notar como ela mordia o lábio quando se concentrava. Ou como sorria de lado quando alguém fazia uma piada idiota.

Ele se perguntava se ela ainda pensava na última noite deles antes da mudança. No beijo não resolvido. Na distância que não foi só geográfica.

E mais do que tudo… se agora, com os dois no mesmo lugar de novo, aquela história teria uma segunda chance.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP