Eduardo
A luz que entrou pela fresta da cortina foi se espalhando devagar, do carpete ao lençol amarrotado, até alcançar o rosto de Laís. Ela dormia de lado, um braço sob o travesseiro, a boca entreaberta num descanso que me deixou em silêncio. Havia vestígios do dia anterior no corpo da casa: botas com barro perto da porta, duas garrafas d’água vazias na cômoda, o cheiro discreto de terra e sabonete. E havia vestígios de nós: a blusa dela pendurada no abajur, um rastro de risos, nossa respiração encaixada durante a noite.
Peguei o celular e vi mensagens acumuladas: elogios ao mutirão, fotos de crianças com as mãos sujas segurando mudas, um áudio emocionado de uma professora. E, entre tudo, comentários atravessados em grupos da cidade. “Bonito o discurso… mas isso aí é marketing.” Respirei, deixei o aparelho na mesa e voltei a olhar para o que importava: a mulher que, sem saber, tinha se tornado a minha maior promessa.
— Você tá me encarando — ela murmurou, sem abrir os olhos.
— Tô