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Capítulo 2 – Café e Sorrisos Tímidos

Laís

A cafeteria da praça era exatamente como ela lembrava: mesas de madeira escura, plantas penduradas nas janelas e o cheiro inconfundível de café fresco com pão de queijo recém-saído do forno. O tempo parecia ter parado ali. Ou talvez fosse ela que tivesse acelerado demais e agora precisasse reaprender a respirar devagar.

Sentaram-se na mesa de sempre, no canto perto da janela. Ela sorriu com a coincidência. Eduardo não comentou, mas ela sabia que ele lembrava. Ele sempre lembrava das coisas que importavam — mesmo que fingisse que não.

— Quer pedir o de sempre? — ele perguntou, pegando o cardápio mais por hábito do que por necessidade.

— Cappuccino com canela. Você ainda toma o duplo?

— Com uma dose de açúcar. — Ele sorriu. — Algumas coisas não mudam.

Laís também sorriu, mas por dentro travava uma guerra. Queria manter a conversa leve, casual. Como se nada tivesse ficado suspenso no ar por todos esses anos. Como se aquele reencontro fosse só um acaso simpático do destino, e não uma armadilha bem-armada para o coração.

Mas era impossível sentar com ele ali — na mesma mesa, no mesmo canto de sempre — sem lembrar da última vez. Da noite abafada, do toque nervoso das mãos, do beijo apressado que ficou sem resposta.

Eles nunca chegaram a ser um casal. Mas também nunca foram só amigos.

— E então, como foi a faculdade? — ele perguntou, cruzando os braços sobre a mesa.

Ela falou. Sobre a capital, os estágios, os colegas. Tentou parecer neutra, mas ele a ouvia com atenção demais, como se cada frase dela fosse um segredo esperando ser descoberto. E isso a desconcertava.

Seu olhar se perdia nele. Nas mãos grandes que mexiam a xícara com calma. Nos lábios que moldavam as palavras como se cada uma fosse importante. No pescoço onde a barba crescia de leve, revelando que ele ainda era jovem, mas já tinha passado por coisas demais.

Ela desviou o olhar.

Perigo, sussurrou sua mente. Esse tipo de conforto, essa intimidade rápida, era um convite ao caos. E Laís sabia o quanto o caos podia ser sedutor quando vinha com cheiro de café e sotaque do interior.

Eduardo

Ele estava prestando atenção no que ela dizia, claro que estava. Mas havia algo mais forte acontecendo: ele não conseguia parar de observar os detalhes.

Laís tinha crescido. Não só no rosto — que agora era mais definido, com um ar confiante — mas na maneira como ocupava o espaço. Mesmo tímida, mesmo um pouco contida, ela tinha uma presença que o deixava inquieto. O jeito como mexia no cabelo quando estava desconfortável. A covinha do lado esquerdo que aparecia só quando ela sorria de verdade. Os olhos, que não olhavam por educação — olhavam com profundidade, como se procurassem alguma verdade.

Ele fingia naturalidade, mas por dentro sentia o tempo todo o peso daquela lembrança — o beijo. Aquele beijo rápido e nervoso na varanda da casa dela, na véspera da mudança. Foi confuso, quase um impulso. Mas ele nunca esqueceu. E odiava não saber se ela lembrava daquilo da mesma forma que ele.

Eduardo ria das histórias dela, mas no fundo, estava tentando entender por que aquele reencontro mexia tanto com ele. Anos se passaram. Namoros vieram, foram. Ela seguiu a vida, ele também. Mas agora… agora parecia que nada disso tinha valido muito. Porque bastava ela cruzar a perna e ajeitar a xícara que o peito dele apertava.

Quando ela contou uma história engraçada de um professor atrapalhado, ele se permitiu rir mais alto. Laís riu junto, e por um instante, parecia que os dois tinham voltado no tempo. Como se nada tivesse mudado — e ao mesmo tempo, tudo tivesse mudado demais.

O garçom trouxe a conta, e ele pegou antes que ela pudesse protestar.

— Eu pago. Pela tradição. — piscou.

— Você só pagava quando esquecia que estava devendo. — Ela provocou, mas havia um sorriso nos lábios.

— Dessa vez é cortesia da casa. — respondeu, com aquele tom meio sério, meio brincalhão.

Quando ela estendeu a mão para ajudar com o dinheiro, seus dedos se tocaram. De leve. Quase nada.

Mas foi como faísca em palha seca.

O toque durou um segundo, talvez menos. Mas o impacto foi imediato — um calor que subiu pelos braços, pelos olhos, pelos pensamentos. Ele se afastou rápido demais, como quem teme que o corpo revele demais.

Laís pareceu afetada também, mas fingiu não notar. Eduardo ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela. Tinha medo do que podia acontecer se ficassem mais tempo ali. Tinha medo do que podia acontecer se não ficassem.

Laís

Na saída, o sol já começava a cair e deixava tudo dourado, como se a cidade estivesse tentando impressioná-la. Eduardo caminhava ao lado dela, os ombros quase tocando. Eles estavam mais calados, mas era um silêncio confortável. Daqueles que não pedem palavras.

Ela sentia o corpo mais leve, mas a mente um turbilhão. O toque rápido dos dedos ainda queimava na pele. Tinha vindo para Santa Amora para um estágio, para se reencontrar, para colocar as ideias em ordem. Mas em menos de duas horas, Eduardo havia virado um ponto de interrogação gigante no meio de tudo.

Quando chegaram à esquina que separava os caminhos, ele parou.

— Me avisa se quiser companhia outro dia. Ou só café.

Ela hesitou.

— Talvez eu aceite os dois.

E foi embora antes que o sorriso dele a desarmasse de novo.

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