Laís
A tarde de terça-feira caiu sobre Santa Amora com um vento morno, carregado de cheiros de terra molhada e folhas secas. No quintal de Dona Tereza, as jabuticabeiras balançavam como se quisessem ouvir segredos. Laís estava sentada na varanda, com o caderno aberto no colo, quando ouviu o portão ranger. Era Eduardo.
Ele entrou devagar, como quem respeita o território, mas seus olhos procuraram os dela de imediato. Carregava duas latas de refrigerante e um saco de biscoitos, como adolescente que traz desculpa para visita inesperada.
— Trouxe reforços — disse, levantando a sacola. — Pra garantir que você não me expulse.
— Vou pensar — respondeu Laís, tentando esconder o sorriso.
Ele se sentou ao lado dela. O vento fez voar algumas páginas do caderno e Eduardo segurou antes que caíssem.
— O que você escreve tanto aqui? — perguntou, curioso.
Laís hesitou. — Pensamentos. Coisas que não sei se teria coragem de dizer em voz alta.
Ele folheou sem ler, respeitoso. — Posso não ler, mas