Lívia Ricci socorreu um homem desconhecido sem saber que o seu paciente era o sottocapo da máfia. A médica levou o gângster para o hospital onde trabalhava e tratou de seus ferimentos; mas ela acabou se tornando prisioneira do mafioso. Para sair da prisão fria e inóspita, Lívia aceitou a proposta de casamento falso e assinou o contrato com o gângster. Depois de três meses, Enrico descobriu que a sua esposa de mentira era a filha do homem que matou os seus pais. Embora o sottocapo lutasse para esconder as suas emoções, ele se apaixonou pela bela mulher e fez de tudo para mantê-la por perto. O mafioso continuará amando a sua médica mesmo após descobrir que ela tem um envolvimento com a máfia rival ou permitirá que o desejo de vingança obscureça a razão? Apenas o verdadeiro amor poderá dissipar a nuvem densa de rancor que envolve a mente e o coração de um homem frio e cruel.
Leer másEm passos apressados, Enrico continuou andando. Um de seus subordinados o cumprimentou, mas ele o ignorou. Estava com receio de que o nó se formando em sua garganta ficasse aparente em sua voz, afinal, seria o futuro Capo, precisava manter a postura.
Dentro do carro, ele tirou o blazer e afrouxou o colarinho, sentia a raiva sufocá-lo. Sentia-se estúpido por ter sido enganado por um rabo de saia.
— Ela vai ter o que merece! — Desferiu um soco contra o volante. — Isso não vai ficar assim! — Outro soco. Depois outro, e mais outro.
O carro deslizava tão rápido pela pista, que as árvores que ladeavam a estrada mais pareciam borrões vistas de dentro do automóvel. Enrico baixou os vidros, permitindo que o ar gelado condensasse sua respiração irregular, o vento frio açoitou o seu rosto. A voz do tio ainda reverberava em sua mente, as informações colhidas, junto com a moeda e o pendrive, confirmavam o que Enrico tinha tanto medo de admitir para si mesmo: ele estava errado sobre a própria esposa. A mulher que ele amava era uma farsa, mas Enrico estava cansado daquele casamento falso, estava na hora de dar uma lição na mulher que o enfeitiçou com os seus encantos.
O céu estava rosado quando Enrico saiu do carro, ele ergueu levemente a cabeça e acenou para os dois seguranças que vigiavam a entrada da propriedade.
Enrico entrou na sala, olhou para o sofá onde Lívia estava encolhida, envolta em um cobertor. Por breves segundos, ele se compadeceu da mulher com marcas de lágrimas no canto dos olhos, mas sua expressão se transformou quando as palavras do tio ecoaram em sua mente. Ele estava hesitante e angustiado, mas no final, foi dominado pelo ódio em seu coração. Não havia mais ternura em seu olhar.
Pisando duro contra o chão, ele foi até o sofá e puxou o cobertor tão bruscamente que Lívia despertou, assustada. Colocou a mão no peito, o seu coração batia mais rápido.
— O que houve? — indagou a voz trêmula de Lívia. — Eu fiquei a madrugada toda te esperando.
— O que houve? — Riu debochadamente. — Você não tem vergonha da maneira como interpreta esse papel de boa mocinha, não é?
— Não permito que fale dessa maneira comigo! — Ela replicou e encolheu-se ainda mais quando Enrico avançou.
— Cale-se! — A sua voz estava carregada de ódio.
— Por que fica dizendo que estou encenando?
— Bravo! — Enrico começou a bater palmas — Hollywood está perdendo uma grande atriz. — Ele continuou aplaudindo. — Digna de um Oscar!
— Não entendo porque está tão chateado comigo… — retrucou.
— Não seja sonsa! — Ele aumentou o tom da voz. — Você não se cansa? Hâ!?
Lívia contraiu os ombros e engoliu em seco ao avistar a pistola na cintura de Enrico.
— Não sei como não desconfiei de você antes — disse, negando com a cabeça. — Eu devia ter percebido que todos os seus movimentos e palavras foram bem ensaiados! — Segurou-lhe o queixo e levantou o rosto de Lívia, os olhos negros estavam marejados. — A melhor parte disso tudo foi o seu ato de bondade para me salvar… — a mágoa repercutiu em sua voz
— Eu sempre fiz o que estava ao meu alcance para salvar vidas. Prometi que faria de tudo, segundo o meu poder e minha razão, para salvar até mesmo bandidos feito você! — Lívia replicou, cuspindo cada palavra.
— Ah! — Aplaudiu de novo, mas desta vez, mais alto. — O juramento de Hipócrates! Você tem uma resposta para tudo.
— Não tenho que ficar ouvindo isso. — Levantou-se do sofá. — Vou embora dessa casa!
— Você só vai sair daqui quando eu mandar! — Ele gritou. — Senta aí!
Enrico tirou a glock da cintura e colocou na mesinha de centro.
Naquele exato momento, Lívia recordou-se do que ele comentou sobre a mulher que matou por traí-lo. Pela fisionomia tenebrosa do marido, sabia que Enrico não hesitaria em fazer o mesmo com ela. Lívia foi para o lado oposto e sentou na poltrona de frente para o marido. Não sabia o que esperar, sabia apenas que não deveria baixar a guarda.
— Quer falar mais alguma coisa? — Ela tentou demonstrar segurança.
O jeito como alisava as costas das mãos trêmulas denunciavam o seu medo e nervosismo. Por um segundo, Enrico chegou a hesitar, mas rapidamente, ele tratou de reavaliar os sentimentos por aquela mulher.
— Você não tem jeito mesmo! — Ele teceu o comentário, sorrindo.
Houve um longo minuto de silêncio naquela sala. A tensão planava entre o casal. Estava amanhecendo, Lívia não tinha dormido bem naquela noite.
— Já brincou de roleta russa? — Ele olhou de Lívia para a glock.
— Não! — Ela se concentrou na pistola.
Enrico estava tão dominado pela paranoia que retirou a arma da mesa antes que Lívia fizesse o mesmo.
— Eu já brinquei de roleta russa com um colega.
Os lábios se contorcem num sorriso tenebroso enquanto Enrico alisava o cano da semiautomática.
— Não usei essa belezinha aqui. — Empunhou a glock — Foi uma 48 que o meu tio me deu em um dos meus aniversários. Naquele dia, o tambor tinha uma, apenas uma bala, e eu acertei a perna dele de primeira.
Lívia se remexeu no sofá, estava assustada com o tipo de educação que Enrico teve. Ele foi ensinado a odiar, a passar por cima e eliminar todos os problemas que estivessem em seu caminho.
Mesmo cometendo tantas atrocidades, Don Bianchi ainda queria que Enrico matasse Lívia e se desfizesse de seu grande amor pessoalmente. Lívia atrapalhou o seu plano de destruir Bonano Gaspipe. — O seu pai era apenas um capanga estúpdio, — o velho respondeu em meio a dor. — Ele queria deixar a gangue para ter uma vida normal com uma vagabunda que tirou da casa da madame Monroe depois que ela engravidou.— O que fez com os meus pais, velho desgraçado? — Esmurrou-lhe o rosto. — diga a verdade, — Enrico desferiu mais um soco depois que Don Bianchi cuspiu sangue em seu rosto.— Depois de matarm o seu pai, eu trepei com sua mãe e mandei meus homens se divertirem com aquela vagabunda até se cansarem.— Onde está a minha mãe?— Morreu! — Mesmo com o rosto ferido e os olhos vazados, o tio de Enricou ria frenéticamente.Lívia ficou furiosa e correu para cima do velho capo.— Seu maluco, imbecil! — Começou a xingá-lo por ser tão egoísta.Se o Don Bianchi não tivesse estuprado sua mãe, ela não te
Assustada, Lívia ficou em silêncio no trajeto até o local marcado. O homem ao seu lado conduzia o automóvel com uma fisionomia sombria. Ao chegar, os dois andaram até um galpão abandonado no meio de uma vegetação rasteira. Enrico abriu a porta, entrou na frente de Lívia. A voz ecoou no local mal iluminado.— Estão atrasados!Enrico tentou sondar de onde vinha a voz de seu tio. Tirou a pistola e olhou para cada lado daquele balcão com madeiras tomadas pelos cupins.— Atire nela! — ordenou ao sobrinho.Enrico tinha forças para lutar contra o desejo que sentia por aquela mulher, mas não tinha coragem de matar Lívia.— Prefere ver o seu filho morrer?Don Bianchi surgiu das sombras segurando um criançpa de cabelos castanhos que parecia estar dopado. Ele botou o menino no chão e então sorriu.Impaciente, o velho capo empunhou a arma e disparou na direção de Lívia. Mattia surgiu como num passe de mágica e entrou na frente de sua ex-amiga.Aproveitando a oportunidade, Enrico se esgueirou pela
A batalha entre as gangues demorou menos do que os homens da Gaspipe esperavam. Eles invadiram a sede inimiga em apenas cinco minutos.— Essa crise realmente derrubou os Bianchi, — pulou um dos homens mortos.A sede tinha apenas dois homens vigiando. Bonano foi até o escritório, queria ficar de frente com aquele desgraçado que liderava toda aquela merda.— Olha o que temos aqui, chefe! — Um dos homens puxou o conselheiro.— Quanto tempo? — Bonano sorriu. — Seus conselhos não ajudaram muito os Bianchi! — Ergueu as mãos ao girar devagar. — Onde está o seu chefe?— Não sei!— Você sempre foi o fiel escudeiro daquele capo maledetto! — Don Bonano apontou a pistola para o joelho do consigliere, — onde ele está?— Você nunca vai saber, estúpido!Um grito surgiu após o disparo, a dor lancinante fez com que o consigliere caísse no chão.— Isso dói, não é mesmo! — Afirmou com ironia. — Onde está o garoto? — Apertou o cano da pistola contra o joelho esquerdo e começou a contar: — Um, dois, três…
Em casa, Enrico já estava preparado para o ataque. Andou pelo quarto onde a Lívia dormiu nas últimas noites em que esteve naquela casa e sentou-se na cama. A imagem de sua mãe ensanguentada estava gravada em sua memória. Toda a história que seu tio contou acerca de seu pai era uma terrível mentira. Enrico olhou para o carpete e então, prometeu:— Vou me vingar dele, mamãe!Um traçante seguido de outro atravessou o céu escuro. Enrico abaixou quando dois tiros atravessaram o vidro e acertaram a parede acima de sua cabeça.Arrastando-se, Enrico foi para a janela. Encostado na parede, levantou devagar. Esticou o pescoço para ver o exército de homens que defendiam a sua casa bravamente.Enrico correu e pegou a submetralhadora que estava em cima da cama, era hora de lutar contra o tio que o enganou por todos aqueles anos. Quebrou o vidro e em seguida, disparou uma rajada de tiros contra os homens que tentavam invadir a casa pelo jardim da sua mãe.Saindo do quarto, correu até as escadas. Já
Havia uma ironia irrecusável naquele acordo, era o primeiro homem que tinha colhões para fazer tal proposta. Enrico estava se aliando ao seu inimigo para espiar o capo de seu clã. Não tinha dúvidas de que seu tio escondia coisas sobre o passado e nada mais justo do que usar a magia utilizada pelo próprio feiticeiro. A contragosto, ele tirou a pistola do rosto de Mattia, segurou a mandíbula forçando a abrir a boca onde enfiou o cano da glock.— Se você tentar me enganar e der um passo em falso, vou arrancar cada um dos seus dentes e estourar seus miolos, — ameaçou num tom petulante. — Estamos entendidos?Mesmo com o rosto desfigurado após a sessão de pancadas, Mattia concordou com a cabeça.Já em pé, Enrico enxugou o suor da testa com a manga da camisa. Ainda segurava a semiautomática enquanto Mattia se apoiava no sofá para levantar do chão.— Um dos meus homens vai te acompanhar, — tencionou a boca. — Desapareça até que esses ferimentos cicatrizem e mantenha o celular ao seu lado. Em
Por motivos óbvios, Lívia sentiu pena depois de ter escutado tudo pelo que seu ex-colega havia passado. Em anos de amizade, Mattia nunca lhe contou sobre o abuso e tudo o que sofreu nas mãos de seu pai. Perder a mãe, a única por quem era capaz de fazer tudo, era extremamente doloroso para o seu ex-colega. Ela continuou olhando o homem que tentava esconder suas emoções.— Eu sinto muito! — Ela engoliu em seco.No impulso, Lívia passou os braços no pescoço do amigo logo depois que o veículo parou no estacionamento de um hotel no meio da estrada. Mattia desligou o motor, as lágrimas transbordaram pelos cantos de seus olhos ao lembrar não só da mãe, mas por todas as maldades que ele fez a amiga.— Sua mãe está descansando em um bom lugar! — Prestou condolências na esperança de consolá-lo.Lívia o soltou e passou as mãos nas vistas, estava comovida com a situação de Mattia.Emocionado, ele encostou a cabeça contra os braços apoiados no volante, entregou-se ao choro angustiado por mais algu
Último capítulo