Contrato com o gângster
Contrato com o gângster
Por: Yana Shadow
Prólogo

Em passos apressados, Enrico continuou andando. Um de seus subordinados o cumprimentou, mas ele o ignorou. Estava com  receio de que o nó se formando em sua garganta ficasse aparente em sua voz, afinal, seria o futuro Capo, precisava manter a postura.

Dentro do carro, ele tirou o blazer e afrouxou o colarinho, sentia a raiva sufocá-lo. Sentia-se estúpido por ter sido enganado por um rabo de saia.

— Ela vai ter o que merece! — Desferiu um soco contra o volante. — Isso não vai ficar assim! — Outro soco. Depois outro, e mais outro.

O carro deslizava tão rápido pela pista, que as árvores que ladeavam a estrada mais pareciam borrões vistas de dentro do automóvel. Enrico baixou os vidros, permitindo que o ar gelado condensasse sua respiração irregular, o vento frio açoitou o seu rosto. A voz do tio ainda reverberava em sua mente, as informações colhidas, junto com a moeda e o pendrive, confirmavam o que Enrico tinha tanto medo de admitir para si mesmo: ele estava errado sobre a própria esposa. A mulher que ele amava era uma farsa, mas Enrico  estava cansado daquele casamento falso, estava na hora de dar uma lição na mulher que o enfeitiçou com os seus encantos.

O céu estava rosado quando Enrico saiu do carro, ele ergueu levemente a cabeça e acenou para os dois seguranças que vigiavam a entrada da propriedade.

Enrico entrou na sala, olhou para o sofá onde Lívia estava encolhida, envolta em um cobertor. Por breves segundos, ele se compadeceu da mulher com marcas de lágrimas no canto dos olhos, mas sua expressão se transformou quando as palavras do tio ecoaram em sua mente. Ele estava hesitante e angustiado, mas no final, foi dominado pelo ódio em seu coração. Não havia mais ternura em seu olhar.

Pisando duro contra o chão, ele foi até o sofá e puxou o cobertor tão bruscamente que Lívia despertou, assustada. Colocou a mão no peito, o seu coração batia mais rápido.

— O que houve? — indagou a voz trêmula de Lívia. — Eu fiquei a madrugada toda te esperando.

— O que houve? — Riu debochadamente. — Você não tem vergonha da maneira como interpreta esse papel de boa mocinha, não é?

— Não permito que fale dessa maneira comigo! — Ela replicou e encolheu-se ainda mais quando Enrico avançou.

— Cale-se! — A sua voz estava carregada de ódio.

— Por que fica dizendo que estou encenando?

— Bravo! — Enrico começou a bater palmas — Hollywood está perdendo uma grande atriz. — Ele continuou aplaudindo. — Digna de um Oscar!

— Não entendo porque está tão chateado comigo… — retrucou.

— Não seja sonsa! — Ele aumentou o tom da voz. — Você não se cansa? Hâ!?

Lívia contraiu os ombros e engoliu em seco ao avistar a pistola na cintura de Enrico.

— Não sei como não desconfiei de você antes — disse, negando com a cabeça. — Eu devia ter percebido que todos os seus movimentos e palavras foram bem ensaiados! — Segurou-lhe o queixo e levantou o rosto de Lívia, os olhos negros estavam marejados. — A melhor parte disso tudo foi o seu ato de bondade para me salvar… — a mágoa repercutiu em sua voz

— Eu sempre fiz o que estava ao meu alcance para salvar vidas. Prometi que faria de tudo, segundo o meu poder e minha razão, para salvar até mesmo bandidos feito você! — Lívia replicou, cuspindo cada palavra.

— Ah! — Aplaudiu de novo, mas desta vez, mais alto. — O juramento de Hipócrates! Você tem uma resposta para tudo.

— Não tenho que ficar ouvindo isso. — Levantou-se do sofá. — Vou embora dessa casa!

— Você só vai sair daqui quando eu mandar! — Ele gritou. — Senta aí!

Enrico tirou a glock da cintura e colocou na mesinha de centro.

Naquele exato momento, Lívia recordou-se do que ele comentou sobre a mulher que matou por traí-lo. Pela fisionomia tenebrosa do marido, sabia que Enrico não hesitaria em fazer o mesmo com ela. Lívia foi para o lado oposto e sentou na poltrona de frente para o marido. Não sabia o que esperar, sabia apenas que não deveria baixar a guarda. 

— Quer falar mais alguma coisa? — Ela tentou demonstrar segurança.

O jeito como alisava as costas das mãos trêmulas denunciavam o seu medo e nervosismo. Por um segundo, Enrico chegou a hesitar, mas rapidamente, ele tratou de reavaliar os sentimentos por aquela mulher.

— Você não tem jeito mesmo! — Ele teceu o comentário, sorrindo.

Houve um longo minuto de silêncio naquela sala. A tensão planava entre o casal. Estava amanhecendo, Lívia não tinha dormido bem naquela noite.

— Já brincou de roleta russa? — Ele olhou de Lívia para a glock.

— Não! — Ela se concentrou na pistola.

Enrico estava tão dominado pela paranoia que retirou a arma da mesa antes que Lívia fizesse o mesmo.

— Eu já brinquei de roleta russa com um colega.

Os lábios se contorcem num sorriso tenebroso enquanto Enrico alisava o cano da semiautomática.

— Não usei essa belezinha aqui. — Empunhou a glock —  Foi uma 48 que o meu tio me deu em um dos meus aniversários. Naquele dia, o tambor tinha uma, apenas uma bala, e eu acertei a perna dele de primeira. 

Lívia se remexeu no sofá, estava assustada com o tipo de educação que Enrico teve. Ele foi ensinado a odiar, a passar por cima e eliminar todos os problemas que estivessem em seu caminho.

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