A manhã parecia comum.
Crianças correndo pela ONG, tintas abertas, cheiro de café misturado com o de madeira antiga e vozes cruzando os corredores.
Mas Anyellen sentiu no ar, antes mesmo de vê-lo.
Como quem sente uma corrente de vento diferente antes da chuva.
Uma presença que não era esperada.
Nem bem-vinda.
— Any...
A voz masculina cortou o pátio com um tom ensaiado de doçura — quanto tempo, hein?
Ela se virou devagar.
E lá estava ele. Caio.
Mesmo sorriso, mesmo olhar.
Mas algo nele tinha mudado.
Ou talvez ela é que tinha mudado o suficiente para enxergar agora o que antes se recusava a ver.
— O que você está fazendo aqui?
A voz dela foi baixa, mas afiada.
Caio se aproximou como quem oferece flores com veneno nas pétalas.
— Vim ajudar. Soube que vocês estão com problemas com a documentação. Posso colocar uns advogados à disposição.
— E o que você quer em troca?
Ele riu.
Mas o riso era uma máscara torta.
— Não posso querer apenas ajudar alguém que... um dia eu amei?
A palavra “ame