Capítulo 1 – A Sala do Lobo

Se alguém me dissesse que eu terminaria o dia chorando dentro do banheiro da empresa mais temida de São Paulo, eu teria colocado um rímel à prova d’água.

Mas lá estava eu, Helena Duarte, com a dignidade escorrendo junto com as lágrimas e um restinho de base manchando o lenço de papel barato. Primeira semana no emprego e eu já tinha deixado cair café no projeto do setor financeiro. Não era só café, era uma xícara cheia. No colo do gerente.

“Respira, Helena, só respira...”, murmurei para mim mesma, encarando o espelho como se fosse uma amiga sensata.

— A senhorita Helena Duarte, favor comparecer à sala do senhor Dante Vasconcellos.

A voz da recepcionista no alto-falante cortou minha alma. Era isso. Seria demitida. Seria expulsa do prédio. Provavelmente presa por tentativa de assassinato por escaldadura.

Com passos miúdos e o coração batendo feito escola de samba, caminhei pelo corredor até o elevador executivo. Estava em território proibido. Subi para o último andar como quem sobe para o sacrifício. E então, a porta de vidro se abriu... e eu vi ele.

Dante Vasconcellos.

De pé, de costas para mim, observando a cidade através das enormes janelas, ele parecia uma pintura feita só com tons de arrogância e poder. Usava um terno preto perfeitamente alinhado, cabelo escuro penteado para trás e uma aura de "não-me-perturbe-ou-eu-destruo-sua-vida" que parecia natural.

— Pode entrar. E feche a porta. — A voz dele era grave, firme, sem sequer virar o rosto.

Engoli em seco e obedeci. Ele se virou lentamente, como se o tempo seguisse suas ordens.

E então, aqueles olhos cinzentos caíram sobre mim.

Eu esperava raiva. Esperava gritos. Talvez uma chuva de papelada. Mas o que recebi foi... silêncio. Um olhar penetrante que me analisava como se eu fosse um quebra-cabeça de mil peças com uma faltando.

— Sabe quem eu sou, senhorita Duarte?

— O... senhor Vasconcellos. O dono de tudo isso. — gaguejei, gesticulando inutilmente em volta.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Ótimo. Então sabe que eu não costumo tolerar... incompetência.

Meu estômago se revirou.

— Foi um acidente, senhor. Eu não tive intenção de...

— Intenção não importa. Resultados importam. E você derramou café num relatório que valia mais do que o seu salário inteiro do ano.

Obrigada pela delicadeza, chefia.

— Eu... eu posso consertar! — falei de supetão, com os olhos ardendo. — Posso refazer o relatório, ficar até mais tarde... eu faço café novo! Digo... sem derramar!

Algo no canto da boca dele ameaçou se curvar. Um quase-sorriso?

— Você é engraçada.

— Não costumo ser... — murmurei, confusa.

Ele deu a volta na mesa, parando a poucos passos de mim. Alto demais. Imponente demais. Perfume bom demais.

— Sabe o que mais você tem, além de azar?

— Um talento nato para desastre?

— Coragem. — Ele falou como quem descobre uma pedra rara. — A maioria das pessoas estaria chorando ou se escondendo. Mas você está aqui. Encarando um CEO. Parabéns. Isso é raro.

Eu pisquei.

— Isso quer dizer que... não estou demitida?

Ele sorriu. Um sorriso torto, perigoso.

— Não hoje.

Meus joelhos quase desabaram de alívio.

Mas antes que eu pudesse agradecer, ele continuou:

— Preciso de alguém com a sua... ousadia. Para um projeto especial. Uma proposta um pouco fora do comum.

— Projeto?

— Casamento. Comigo.

Silêncio.

Olhei ao redor, esperando uma câmera escondida. Ou uma piada. Ou uma internação.

Mas o olhar dele não vacilou.

— Senhor Vasconcellos... isso é uma brincadeira?

— Eu não brinco, senhorita Duarte. Nunca.

Meu mundo girou. E o que eu não sabia... era que aquele acordo absurdo estava prestes a mudar a minha vida para sempre.

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