Clara caminhava devagar pelas ruas do centro de Valmor, agora com o cabelo solto ao vento e uma bolsa simples a tiracolo. Era uma manhã de céu azul e sol gentil, e mesmo que por dentro ela ainda sentisse o gosto amargo da decepção, algo naquela paisagem familiar lhe trazia um conforto discreto. As calçadas por onde andara tantas vezes pareciam lhe dizer: “Você sobreviveu.”
Passou pela praça onde costumava sentar para ler durante os intervalos da faculdade. Sentou-se no mesmo banco antigo, desgastado pelo tempo, e retirou da bolsa um exemplar de “Jane Eyre” com a capa já gasta nas bordas. Era o mesmo livro que havia caído no chão quando conheceu Augusto, meses atrás. Engraçado como algumas histórias voltavam para o mesmo ponto de partida, mas com protagonistas diferentes.
Enquanto folheava as páginas, uma lembrança vívida daquele dia no shopping a invadiu. O choque do esbarrão, o livro no chão, o sorriso simpático de Augusto, o olhar dele para a capa, a conversa que se seguiu. Tudo tin