A caminhada de cem metros da oficina até a casa de sua mãe pareceu a Helena uma travessia pelo corredor da morte. Ricardo tagarelava ao lado de Dante, apontando marcos do bairro com um orgulho ingênuo, completamente alheio à corrente de alta voltagem que passava entre sua irmã e o benfeitor deles. Helena andava rígida, os olhos fixos no chão, sentindo o olhar de Dante nela, um peso físico que a fazia querer correr. Ele, por sua vez, absorvia o ambiente – as casas de cores vivas, as crianças jogando bola na rua, o cheiro de comida caseira no ar. Ele estava vendo o tecido da vida dela, o mundo humilde e real que ela tentara proteger com seu sacrifício.

A casa era pequena e impecável, com um pequeno jardim de hibiscos na frente. Assim que entraram, um cheiro delicioso de moqueca, dendê e coentro os envolveu. Do fogão, uma mulher de cabelos grisalhos presos em um coque e com os mesmos olhos expressivos de Helena se virou, secando as mãos em um avental. Era Lúcia Santos, a matriarca.

Seu r